quinta-feira, 1 de agosto de 2013

UMA 2013

Houve UMA no domingo 28, lá para os lados de Melides!

Confesso que o ano passado, ao terminar a minha 3ª participação nesta prova, tinha ficado com uma desagradável sensação de faltar ali qualquer coisa. Faltou aquele pequeno degrau, que diferencia o acessível do difícil. No domingo passado, fruto das condições em que se desenrolou mais uma edição da UMA, aconteceu o tal degrau, e que degrau!!

Sempre encarei a UMA como uma prova envolta naquela áurea de 'feito'. Algo de que temos orgulho em falar, uma vez completada.

Atendendo às minha capacidades atléticas a UMA sempre assumiu uma figura de algo que uma vez conseguido nos eleva para um nível acima. Será, salvo as devidas proporções e levando ao extremo, o mesmo que o Carlos Sá terá pensado ao terminar a Maratona das Areias ou a Badwater.

No domingo até já ia avisado pelo Francisco, que no FB, dias antes, deixara um aviso quanto à areia e às condições da maré. Assim que começaram a passar os Kms, pude comprovar que tinha pela frente algo muito diferente do que encontrara em 2012, tanto em condições da areia, como na temperatura.

A maré vaza estava marcada lá para as 13hrs e aqueles Kms iniciais foram extraordinariamente difíceis, com a água muito em cima e ondulação forte. Quanto ao vento, que geralmente é sempre forte e a soprar contra o sentido da prova, este ano quase não se fez sentir e o que se sentiu foi pelas costas, o que fez com que a temperatura tivesse subido substancialmente.

A juntar aos factores climatéricos, os factores físicos, com a minha condição de modo nenhum comparável à de 2012.

Não servindo de desculpa, mas vou sempre tentando arranjar desculpa no facto de a organização, na procura incessante de mais inscrições e de recordes de inscritos, através do facilitismo, ir adaptando a data da prova de acordo com as melhores condições de marés. Este factor afastou a data da realização para uma altura não ideal para mim, que tal como no ano passado, seria sempre para meados de Julho, o mais perto possível do meu 'Estágio das Areias', em Lagos, invariavelmente em Junho.

Brincadeira à parte sou, desde que me considero no direito de emitir opinião, ou seja desde a 1ª edição em que participei, completamente a favor da realização da UMA em data fixa do calendário, fosse ela qual fosse. Expressei já essa opinião junto da organização, mas é obviamente apenas uma opinião, que pouco vale perante os números de inscritos, que se a coisa for digamos que facilitada (...) e a organização oferecer uma maré tipo Meia da Caparica, a notícia espalha-se e no ano seguinte batem-se recordes de inscritos, tal como aconteceu este ano. Claro que se entende que para um organizador são os números de inscritos que valem e ter 460 à partida, é sempre melhor que 360!

Só que por vezes a natureza é imprevisível e troca as voltas às estatísticas tal como aconteceu este ano. Dos 460 inscritos, chegaram ao fim 397!!

No domingo, aos 10Kms, já eu fazia contas aos Kms. Os que fizera até ali, o esforço que tal representava e o que ainda tinha pela frente. Confesso até que o espectro da desistência de 2010 inundou a minha cabeça, como uma hipótese. Mas ao pensar não no acto da desistência em si, mas em tudo o que passei em 2010, desde a sensação de fracasso, à hora ou mais à espera de transporte para Tróia a ver outros concorrentes a chegar à Comporta e pouco depois a retomarem o caminho até à meta, o ter que fazer aquele longo passadiço de madeira até à meta, cruzando-me aqui e ali com finalistas e lá na meta, uma vez recolhido o saco ter de voltar a fazer o mesmo caminho em direcção ao barco, fez com que decidisse, logo ali, colocar tal hipótese de lado e fazer a prova, nem que fosse a passo.

Até aos 10 Kms corri (ou arrastei-me) sempre acima dos 8'/Km, tais eram as dificuldades de progressão. Como sempre faço quando corro na praia, refugiei-me de molhar os pés e andei a maior parte do tempo na zona plana, de areia mais seca mas mais nivelada. Cerca dos 10Kms vejo o pessoal todo a encostar às arribas e percebo que na base delas o piso é mais estável e claro, faço o mesmo. Consigo fazer 2 Kms abaixo dos 8'/Km e já foi muito bom.

Os 18,5Kms e a Praia do Pego marcaram uma reviravolta na minha participação. Com os pés cheios de areia e muito cansado, arrisquei uma paragem, sem ter a certeza de conseguir recomeçar a correr. Fiz o controlo, dirigi-me calmamente a um chapéu e sentei-me na espreguiçadeira à sombra. Tratei dos pés, um deles já com uma bolha, hidratei e comi figos secos.

A minha mochila levou:
2x0,50 de água (+ 0,50 no bidon à cintura), uma sandes, um sumo de fruta, figos secos e amendoins salgados.

Uma vez terminada esta paragem recomecei a corrida e passados alguns metros senti alguma reabilitação muscular e fiquei muito animado. Embora cansado, no recomeço as pernas respondiam afirmativamente ao esforço e assim podia contar com elas!

Fiquei muito animado, passei de imediato a rolar na casa dos 6'/Km e logo ali fiz o plano de ataque a Tróia: fazer a correr o trajecto Pego - Comporta a correr, fazer nova paragem técnica na Comporta e a partir dali intercalar 2kms de corrida com 1km de marcha forçada!

Consegui chegar à Comporta e fiz a paragem planeada. Comi metade da sandes e o sumo. Hidratei e arranquei de novo.

O ânimo era aqui mais elevado. Embora muito desgastado com os 1ºs Kms, as pernas reagiam após algum descanso e isso fazia com que acreditasse ser possível concluir a prova.

Faltavam agora cerca de 15kms. A areia era já ligeiramente melhor e dei comigo a andar novamente na casa dos 6'/Km. Corro até aos 31Kms e depois o 32º é feito a passo acelerado. Não me apetece andar mas faço-o por precaução, mais do que pela necessidade. Recomeço e nos 34Kms, quando estava prestes a parar e seguir novamente a passo, apanho dois concorrentes e 'colo-me' a eles. Como o ritmo é bem confortável decido não andar mas tentar acompanhá-los, pois vão perto dos 7'/Km. Mas foi sol de pouca dura, porque nem 1Km durou esta parceria uma vez que os meus companheiros pararam.

O corpo reage bem e já não me apetece andar. Pelo seguro faço pausas que agora rondam os 500mts. Olho para o 'Silver' centenas de vezes. Não consigo controlar o meu ritmo sem estar sempre a olhar o relógio. Na cabeça a mesma música desde há bastantes Kms. Não consigo mudar para outra, repito e repito e repito a mesma vezes sem conta. O olhar sempre no horizonte, sempre à procura dum pórtico. É um esforço enorme a todos os níveis fazer uma prova destas. Os pés doem. Tenho a camisola encharcada. Controlo a água que me resta e obrigo-me a beber. Ainda bem que trouxe comigo 1,5lts. À partida ainda equacionei a hipótese de descartar 0,5lts. O estômago já vem algo nauseado desde a Comporta, pelo que não dá para meter nada sólido. Só água!

Os kms vão passando. Intercalo Kms feitos mais perto dos 6'/Km com outros feitos a 7'. Faço em marcha trajectos de 200/300mts mais por cautela do que por necessidade. O terreno volta a inclinar e a planta do pé esquerdo, que é o mais solicitado dada a inclinação do terreno, queima. Sei que devia parar para limpar minimamente os pés, mas não quero perder ritmo, pois se o fizer será muito difícil retomar, será difícil conseguir convencer o cérebro a empurrar as pernas naqueles kms finais.

Alcanço os 37Kms e a táctica é agora bem mais simples: correr o mais devagar possível e fazer trajectos de 200/300mts a andar o mais depressa possível.

No horizonte vejo a curva na praia que antecede a meta. Depois da curva são cerca de 1500mts para o tão procurado pórtico. Estou prestes a terminar aquela que foi de longe a mais difícil UMA. Passo um atleta que se diz estreante e comento "mas que estreia!!"

Já vejo o pórtico, bem lá longe. Ando perto dos 6'/Km e arranjo forças para percorrer os mts finais.

Corto finalmente a meta perto das 05:32hrs. Em 2012 fiz 04:50hrs, mas a sensação de feito é agora muito mais real.

Ataco o balcão do isotónico e logo depois o da cerveja. Sento-me 5' e sigo de imediato para a praia, para o banho tantas vezes sonhado lá atrás.

Na praia só vejo malta de calções com andar estranho!

Dou um mergulho e fico ali de molho, a saborear aquele prémio.

Desta vez farei o passadiço de madeira em direcção ao ferry apenas no sentido da ida.

Sou 'finisher' da UMA 2013!!

Alguns números da minha UMA

Tempo Oficial: 05:32:36
188º Classificado da Geral (em 397 finalistas)
18º Escalão 50/54
Ritmo médio: 07:37'/Km

Entre as Arribas e o Mar

Junho


Impõe-se aqui uma nota prévia a este artigo, uma vez que, apesar de respeitar a um evento que ocorreu em Junho, por várias razões não o publiquei na devida altura.

Pretendo agora com a sua publicação colocá-lo no lugar próprio.

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Foram mais umas férias em Lagos e mais um Estágio nas Areias, como gosto de lhe chamar para tornar as coisas um pouco mais sérias.

A cabeça já a pensar noutras areias, as da Península de Tróia onde tudo se decidirá e terminará em termos de época 2012/2013.

O objectivo, claro, é gozar ao máximo os cenários e ganhar algumas pernas para a ponta final da época, que sublinhe-se, não foi de todo das mais esforçadas ...

Apesar de ser um centro urbano de consideráveis dimensões, Lagos consegue ter oferta muito boa em termos de condições e locais para fazer umas boas sessões. Há boas alternativas ao alcatrão e criei já alguns percursos jeitosos por lá.

Com o imenso mar como incontornável pano de fundo, foram 3 semanas de muito gozo e algum esforço.

Tive frio e calor. Alguma chuva e claro o habitual vento.

Diariamente, a rondar as 07:30 arranquei para as minhas sessões. Fiz a maioria na Meia Praia. É afinal um local de excepção, também para correr, adoro correr na praia e em Lisboa tenho mais dificuldade em consegui-lo. É aliás um privilégio poder treinar com aquele cenário. Tentei aproveitá-lo o melhor que consegui.

Com a enorme lua cheia de meados do mês, o mar agitou-se e ficou ainda mais impressionante. Não há de resto mar igual. Sempre que é admirado oferece vista diferente.

Apanhei marés cheias em que os 10Kms de areal foram feitos em areia seca e solta. Apanhei marés vazias em que a baía parecia uma scut. Para o outro lado, o das arribas, fiz também boas sessões, igualmente duras e também com cenários excelentes. Destaco o circuito Porto de Mós - Praia da Luz - Porto de Mós - Praia D. Ana - Praia do Camilo - Praia do Pinhão. Percurso com cerca de 15Kms, 80% dos quais em arribas com vistas impressionantes para a Meia Praia, Alvor ou do outro lado, Cabo de S. Vicente.

Outro 'must' dos meus treinos de verão na praia é fazê-los à La Krupicka, ou seja, em tronco nú. Vai-se o decoro e ganha-se em sensações muito positivas.

Manhãs excelentes que acabo de gozar.