segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A minha Maratona aos 50 anos!!


25ª Maratona de Lisboa

Clas Geral Clas Esc Dorsal Nome Idade Tempo
593 67 1362 Alexandre Duarte 50 04:03:03

E finalmente chegou o dia 5 de Dezembro de 2010. Chegou ao fim um período de preparação para conseguir correr uma Maratona, com a idade de 50 anos. Período que se iniciou em Janeiro de 2010, após a meniscectomia ao joelho esquerdo.

Ontem corri a Maratona com 50 anos e segui a rotina habitual em dias de prova.

Despertar às 06:30 e saída às 07:30. Chegada ao 1º de Maio um pouco antes das 08:00 e passeio para beber café e comer um bolinho.

O tempo estava impecável. Para além do vento, que se começava a sentir, não havia chuva e a temperatura, tal como os metereologistas previram, subiu para uns agradáveis 10º.

Às 08:15 começaram os preparativos com o equipamento. Sapatos e montes de vaselina.

Às 08:30 estou pronto e começo um aquecimento ligeiro a correr até à zona de partida. Encontro o Fernando Andrade, o Joaquim Adelino, o Manuel Azevedo e o Luís Parro. Havia combinado com este último corrermos juntos, uma vez que partilhávamos o mesmo objectivo: terminar com 04:00:00hrs!

Às 09:00 partida e lá vou eu, agarradinho à bandeirinha das 04:00hrs.

Logo ali a primeira surpresa desagradável: esqueci-me do meu cinto com 2 embalagens de gel e uma tabela de tempos de passagem. Felizmente levava uma bolsa de pulso onde colocara uma barra e quanto aos tempos, teria de ir fazendo contas durante 4 horas …

Em Telheiras não aguento e tenho de encostar a uma parede/wc. Com a perda de líquidos fico a cerca de 250mts da bandeira das 04:00. Muito lentamente recupero e perto da José Malhoa volto a apanhá-los.

Até à zona do Corte Inglês tudo correu bem. Um magote de gente ‘agarrado’ ao pace maker, qual bóia em mar enorme de probabilidades de nos ‘afogarmos’. Será que aquele atleta faz ideia da força que transmite a quem o acompanha??

Esforço por não descolar deste magote de gente e por manter sempre um trajecto ideal, nas curvas, mantendo-me ao máximo junto ao trajecto mais económico. Por outro lado andando em ‘magote’ o vento sente-se menos …

Aproveito a descida do Marquês e dos Restauradores para meter a minha única barra energética. Como vou a descer o esforço de correr e comer em simultâneo é menor.

Quando acabo estou praticamente no abastecimento e aproveito para complementar com água. Felizmente no Cais do Sodré dois energéticos: um em forma de gel e outro em forma de pessoa. Era o Jorge Branco a dar uma força. Guardei o gel e cumprimentei o Jorge e lá segui, para Belém.

Passo à Meia Maratona com 1:55. Temos cerca de 5 minutos de vantagem para a 2ª parte do trajecto.

Aqui o vento forte é contra e as pernas começam a pesar. Começo a pensar nas limitações da minha preparação. Aproximava-se o ‘muro’ dos 30K e acentuava-se o deficiente volume de quilómetros que havia feito nas 12 semanas de preparação. Tinha confiança de aguentar até aos 30, mas faltavam-me pernas para os últimos 12 …

Distraio-me à procura do Victor Silva e os Kms vão passando.

O esforço para acompanhar o marcador vai sendo cada vez maior. Vislumbro o Carlos Fonseca mas não vejo o Víctor e temo que algum azar lhe tenha acontecido.

Por volta do retorno meto o gel e espero que aquilo resulte, pois a pior fase aproxima-se.

Passo novamente no Cais do Sodré e pelo Jorge Branco. Ele dá-me força, mas o calvário aproxima-se. Estamos por volta do Km35, é mais um 'muro' e começa agora a subir.

A partir do Martim Moniz sente-se nitidamente o ritmo a descer e eu dou graças pois só assim me mantenho no grupo. Por grupo refiro-me a cerca de 4/5 que acompanhamos ainda o marcador das 04:00hrs. De um grupo que chegou a ter à vontade cerca de 30 pessoas, restávamos nós.

Aguento-me com maior esforço. Na zona da Pç. Do Chile a respiração começa a ser mais esforçada e perco-me nos cálculos dos tempos. De qualquer forma aos 39K passo com 03:40 e tenho por isso 20mins para fazer os últimos 3Kms. O pior é fazê-los.

O pace maker pára ali junto à Praça do Império. Eu fico admirado e páro também. Fico desorientado, sem ‘farol’ e aí perco completamente a vontade e sigo, mas a andar. Não tenho forças. Provavelmente se ele não tem parado teria igualmente de parar, nunca vou saber. Até à Pç. Do Areeiro vou essencialmente a andar. Quando chego lá acima, aceito uma água e volto a conseguir fazer pequenos trajectos a trote, alternado com andamento a passo.

Na Av. de Roma volto a alternar corrida com andamento a passo. Só quando chego à Av. EUA é que aproveito a descida e recomeço a corrida.

As 04:00 já lá vão e não estou minimamente chateado. Sei que vou acabar a minha 3ª Maratona, agora com 50 anos e depois de já ter passado por muito, é uma vitória para mim. Sei que vou acabar uma Maratona e sem me aleijar. Sei que daqui a um período de descanso conseguirei recomeçar com os treinos e isso é uma vitória para mim.

Entro no Estádio 1º de Maio, passo os 42K e faço os últimos 200mts a custo. Corto a meta junto às 04:03’. Lembro a minha 1ª Maratona, em 1986, em que fiz 03:04’. Curioso!!

Estou completamente arrumado!! Ando a custo até ao carro e depois arrasto-me até à banheira, onde fico de molho. Por sorte o Alex Jr. foi almoçar com os Avós e por isso tenho 3horas só para mim e para me rebolar numa poltrona toda a tarde.

Gastei cerca de 4.200Kcal. O meu ritmo cardíaco máximo foi de 171 bpm. A média foi de 158 bpm. Perdi cerca de 4Kgs. Estive a Ice Tea toda a tarde e à noite comi uma sopa e alguma fruta. É um desgaste enorme para o corpo humano, isto de fazer provas com este esforço!!

Agora começa um novo ciclo. Aproveitarei Dezembro para descansar um pouco do ritmo de treinos que ultimamente fiz, para em Janeiro recomeçar a rotina de treinos, agora para a outra Maratona dos meus 50 anos, a Maratona de Paris!!