quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

São Silvestre Pirata de Monsanto

A Pirata está a afundar-se!


Quando decidi participar na 2ª Edição da São Silvestre de Monsanto, decidi também que desta vez não ia de carro.
Vi a distância até à partida, que ronda os 7Kms e organizei-me de modo a ir e vir pelos próprios meios.
A 1ª parte da minha Pirataria, foi por isso de casa até ao ponto de partida.
Saí de casa por volta das 20:20, fiz Linda-a-Pastora, Carnaxide, Serra de Carnaxide, Alfragide, Decathlon e Parque de Campismo.
Os cálculos falharam por cerca de 12' e quando cheguei já o comboio da pirataria tinha partido.
Não fiquei muito preocupado, até porque conheço minimamente Monsanto e 12' seriam (pensava eu ...) facilmente recuperáveis.
Lá me meti ao caminho, naquela altura a um ritmo um pouco abaixo dos 6'/Km.
Em cima do 2º Km o 1º engano!
Junto à passagem sob a A5, saído da mata e um pouco desnorteado, estupidamente viro à esquerda em direcção a Pina Manique, quando sabia perfeitamente que deveria virar à direita, em direcção a Montes Claros.
Andei cerca de 300mts e apercebi-me do erro, já quase na rua de acesso aos Bombeiros. Voltei para trás e lá fui eu, agora pelo caminho correcto.
Até Montes Claros o traçado foi seguido, mais ou menos de modo correcto. Quando cheguei à Rotunda comecei a ouvir pessoal e pensei que teria alcançado o 'carro vassoura'. Estava enganado!!
Dei a volta no anfiteatro, conforme o traçado disponibilizado e aqui, entre os 4º e o 5º Kms novo engano. Quando dei por mim estava junto aos edifícios da Faculdade de Arquitectura! Tinha descido demais! Novo retorno!!
Mais volta menos volta lá voltei eu à Alameda Alfredo Keil e segui em direcção à Rotunda e ao viaduto sobre a A5. Aí sim, apanhei finalmente o Luís Parro, com funções de 'carro vassoura'. Com o Luís iam cerca de 1/2 dúzia de participantes(...). A partir dali, apercebi-me que de uma Pirataria se tratava, porque eram vários os grupos auto-formados, que por sua vez adoptavam o trajecto que melhor lhes calhava.
Eu sei que chamar à coisa uma 'Pirataria' é muito giro e fica bem.
Eu sei que fomentar a atingirem-se números perto das 2 centenas de participantes é muito interessante.
Mas depois e tal como me apercebi ontem, dada a partida, ninguém, ou quase ninguém, excepção feita ao Luís Parro, se preocupou com esses participantes, claramente incapazes de correrem 16Kms naquelas condições.
Depois, como se veio a comprovar, o chamado "convívio" resume-se à parte dos comes e bebes.
Será que é esse o objectivo desta iniciativa? Cerca de 200 pessoas juntarem-se 1 vez por ano para comerem e beberem? Parece-me que não!!
Eu sei que cada um tinha a responsabilidade de gravar ou memorizar o traçado que o Parro disponibilizou. Eu não posso culpar ninguém de me ter perdido 2 vezes e não é essa a questão.
Quando alguém escreve num tópico para irem correr para Monsanto à noite, que é muito giro, que "ninguém fica para trás" para trazerem os filhos, irmãos, esposas, etc, será que não está implicitamente a assumir alguns riscos? E se alguém se perdesse ontem, quem dava por isso? E se alguém se perdeu ontem, alguém deu por isso??
O que aconteceu ontem foi n grupos de pessoal, a correr no meio de monsanto, em possivelmente cerca de 170 trajectos diferentes!!
Bem, mas voltando ao meu trajecto. Entre os 7º e o 9º Kms nova alteração, ao traçado original, cortando distância, seguimos pela estrada para Pina Manique, quando o traçado original indicava uma entrada para o mato à direita e depois para a esquerda dessa estrada.
Chegados a Pina Manique, alguns grupos juntaram-se e mesmo com o autor do trajecto presente, logo uns se decidiram seguir por um lado e outros pelo outro.
Segui o Parro, obviamente e com ele seguimos cerca de 10.
Aqui, nesta altura e com o percurso completamente adulterado, já cada um seguia por onde queria.
Voltámos a Pina Manique e depois daí em direcção a Montes Claros. A partir daqui, seguiu-se o traçado divulgado anteriormente. Junto ao estádio, passou por nós um grupo que fazia nitidamente a sua 'prova'. Entre eles reinava a boa disposição. Passaram por nós e rapidamente desapareceram. Lá seguimos, depois daí, completamente em singular. Perdi-me do Parro e nunca mais vi a cauda do pelotão. Se até ali ia tudo disperso, a partir daquele encontro acidental, foi cada um por si, a ver quem corria mais!
Cheguei ao Parque de Campismo e comecei a última parte da minha Pirataria: o regresso a casa. E que regresso!!
Decidi aqui fazer outro caminho, que evitasse passar outra vez pela Serra de Carnaxide e estar a subir e a descer.
Por esta altura as forças estavam praticamente esgotadas e ainda faltavam cerca de 7 Kms para casa. Fui à descoberta, desta vez por baixo, junto à zona comercial (Makro, etc) em direcção a Carnaxide, pretendia eu via Outurela. Mas perdi-me novamente (...) e pouco tempo depois vi-me no meio do Bairro 18 de Maio!!
Aqui meus caros amigos, senti-me mais isolado do que há alguns minutos atrás, completamente sózinho no meio de Monsanto by night.
O ambiente era realmente pouco amistoso (...) e áquela hora havia muito movimento por ali ...
A ouvir algumas bocas, lá segui o meu caminho, que não sabia bem qual era!!
Perguntando aqui e ali, lá consegui chegar ao Hospital de Stª Cruz. A partir dali estava novamente em terrenos conhecidos e rapidamente regressei, até porque a partir daqui é sempre praticamente a descer até Linda-a-Pastora.
Por volta das 23:30 estava à porta de casa. Alguns (poucos) alongamentos, porque estava esfomeado e gelado e a aventura terminou ali.
Fiz 7Kms + 14Kms + 7Kms = 28Kms, nas 3 partes da minha Pirata!

Dificilmente participarei noutra aventura destas, pelo menos nos mesmos moldes.
Agrada-me a ideia de se piratear a iniciativa. Percebo que os 'campeões' não têm qualquer obrigação de andar em 'comboio', mas o objectivo também não é aquele que ontem ficou evidenciado. Ou seja, não me parece que os companheiros que idealizaram esta iniciativa (Parro, Peregrino, Jorge Branco), sonhassem que se tornasse naquilo que ontem se tornou, ou seja, numa série de grupos a correrem em Monsanto à noite!!
Tenho a impressão que não foi bem isto que eles idealizaram para a sua (deles) iniciativa.
Como o António Pinho ontem avançava, antes fazer um trajecto acessível a todos, do que acabar por ter muitos trajectos de acordo com os diferentes ritmos de cada um.
Eu ia nesse sentido e propunha fazer 2 ou 3 trajectos, de distância e graus de dificuldade diferentes, até porque Monsanto o permite. Arranjava 2 ou 3 participantes para cada um dos trajectos e a partir daí fomentava-se que todos andassem dentro dum desses grupos. Para os 'campeões' qualquer coisa a rondar os 30Kms, depois um 2º grupo para um trajecto intermédio, como o que foi proposto para ontem e finalmente um terceiro trajecto, mais curto, para quem não quisesse ou pudesse fazer muitos Kms.
Para alguém que ande, em Monsanto, a 4'/Km, demora o mesmo tempo a fazer 30Kms do que alguém como eu, a fazer 20Kms. Acho que com relativamente pouco esforço, se conseguem trajectos em Monsanto, para ritmos diferentes de modo a não espalhar demasiadamente pessoal por Monsanto, fomentar algum convívio também durante a prática desportiva e que permitisse que os 3 grupos chegassem sensivelmente ao mesmo tempo ao ponto de partida.
Nas (poucas) iniciativas em que participei até hoje no BTT, as organizações sempre têm 2 circuitos, um mais técnico/longo que o outro. E os 2 grupos que se formam, são sempre acompanhados de início ao final, não ficando ninguém para trás ou para a frente de tais grupos. Porque não fazê-lo com a corrida? Será que desvirtualiza assim tanto o carácter 'Pirata' desta São Silvestre? Acho que não!
Assim, nesses moldes, talvez eu participe em nova aventura!!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A minha 4ª Maratona


(A chegada mais desejada. Corri os últimos 200mts com o meu Alex Jr. Foi o culminar perfeito para uma prova perfeita.)




E chegou finalmente o dia há tanto aguardado. O dia da Maratona de Lisboa. A minha 4ª Maratona.

A 1ª em 1987 (obrigado João Lima) a 2ª em 1990, a 3ª em 2010 e agora esta, em 2011. De realce, ser a 2ª consecutiva, o que dado o meu historial francamente irregular, passa a constituir obra!

Pouco dormi à noite. Não consigo explicar o estado de excitação, mas sou assim e não há nada que possa fazer. Foram 8 semanas em que foi raro o dia em que a Maratona não me passou pela cabeça. Deitei-me cedo mas depois para adormecer ...

De manhã acordei cerca de 40' depois da hora marcada e a preparação foi necessariamente acelerada. De qualquer modo consegui chegar ao 1º de Maio à hora pretendida e com o tempo que gosto de ter para me preparar.

O tempo está nublado, a temperatura óptima e aparentemente pouco vento. Condições boas para correr, portanto.

O ano passado o factor que pesou negativamente na m/preparação foi a queda que dei a cerca de 4 semanas da Maratona. Nessa altura, os resultados da queda limitaram os treinos específicos que tinha planeados. Este ano foi uma dor que me surgiu, há 2 semanas, na zona do Hálux. Sendo uma articulação muito solicitada na corrida, influenciou bastante os últimos treinos e infelizmente a minha prova, a partir dos 21 Kms.

Voltando à preparação, tive atenção reforçada numa massagem com Voltaren na zona da articulação, o que veio, concluí depois, evitar as dores na 1ª parte da minha prova.

Concluída a preparação, dirijo-me para a partida onde encontro diverso pessoal do Fórum. Lá estava o Ricardo Diez, o Carlos Fonseca, o Luís Parro, o Rui Lacerda (sempre muito concentrado). Faço no início da Rio de Janeiro o meu aquecimento, alguns exercícios para alongar e o habitual 'trote'. A cerca de 5' chego-me ao pelotão e aguardo.

Às 09:00hrs o tiro é dado e arranco na molhada.

Desta vez dispenso o marcador de ritmo. Desta vez tenho o meu fiel 'Silver' e é com ele que irei estabelecer o meu ritmo.

Lutei por esta Maratona. Foi uma luta às vezes diária para conseguir o meu treino. A minha vida não me dá a disponibilidade que necessitaria e por isso não é pacífico conseguir fazer o meu treino, quando e nas condições que o idealizei. Tenho consciência do que fiz e como fiz. Por isso, nas últimas horas antes da partida, passei do objectivo inicialmente definido (baixar as 04:00hrs), para algo mais audacioso, que passou a ser algo, embora indefinido em questões de tempo, substancialmente abaixo daquele 1º objectivo. O único senão seria, como foi, o dedo do meu pé!!

1ºs Kms e a média ronda os 05'/Km. Sinto-me bastante à vontade. É a 1ª parte da prova e eu sei que, em condições normais, conseguirei manter um ritmo nesta cadência, pelo menos até aos 21Kms. A dúvida foca-se da escala da degradação de tal cadência na 2ª metade, e é nessa dúvida que vou progredindo na minha prova.

Para uma cadência a 03:30hrs à Maratona

5Kms = 26' (+1')
10Kms = 51' (+1')
15Kms = 01:15' (+0')
20Kms = 01:41' (+1')
25Kms = 02:06' (+1')
30Kms = 02:32' (+2')
35Kms = 03:00' (+3')
40Kms = 03:30' (+10')
42Kms = 03:39' (+9')
42,190Kms = 03:42' (+12')

Faço Meia Maratona perto das 01:45hrs. Continuo a sentir-me à vontade, mas agora vem a parte que se revelou como mais complicada para mim. Debato-me com a dúvida do limite da m/resistência e em saber como me sentirei no Martim Moniz, zona onde se inicia a parte mais dificil desta Maratona, entre os Kms 37 e 40.

Na zona da 24 de Julho, começo a sentir dores no pé. Estas dores irão manter-se e infernizar-me os restantes 20Kms.

A Maratona é isso mesmo: muita dor e grande espírito de sacrifício. Não acredito que se possa fazer uma Maratona na 'desportiva'! Para ser Maratona tem de haver 50% de físico + 50% de mental. A capacidade de aguentar a dor é essencial para se fazer uma Maratona. Eu enfrento bem melhor a dor que o cansaço. O ano passado, por exemplo, não consegui resistir à Almirante Reis e fiz praticamente a passo os Kms 39º e 40º.

Conseguir ir ignorando a dor no pé e os Kms iam passando, gradualmente mais devagar. Aumentaram as ocasiões em que olhei para o relógio ...

Aos 30Kms passo ligeiramente acima dos 5'/Km. Aos 35Kms a diferença sobe para +3'. Na Praça do Comércio apanho o Fernando Andrade e logo ali me decido fazer durante uns Kms alguma entreajuda. Esta táctica revela-se muito positiva, porque chego ao cimo do Areeiro, que no ano passado fiz a passo, com forças para avançar de novo para cadências junto dos 5'/km.

Assim que alcanço o Km 40º aumento o ritmo, consigo fazer o último Km em 04':48" (!!).

Entro na Avª EUA e o ritmo está óptimo. Será uma entrada em força no estádio. À entrada do estádio, uma surpresa excelente, a minha Filha está à minha espera com o Alex Jr. e a prova acabou logo ali, a cerca de 300mts da meta. Pego-lhe na mão e convido-o a correr com o Papá, como tanta vez ele faz. Mas está ali muita gente e o rapaz fica constrangido e recusa-se. Olho para trás mas já não vejo a Joana e estou positivamente com o 'menino nos braços'. Não tenho alternativa e lá o convenço a ignorar a multidão. O rapaz lá se mentaliza e a recta da meta é feita num esticão (...), como ilustra a imagem que inicia este relato.

Corto a meta. Concluo a Maratona.

Sinto horriveis dores no pé e estou com um empeno daqueles. O Alex Jr. não permite alongamentos. Quer ir ver o tractor que ali está estacionado.

Terminou aqui um dos grandes motivos da minha inveja para com o António Almeida. Cortei a minha 1ª meta com o meu Alex Jr. Muitas se lhe seguirão, assim eu tenha sorte em continuar a poder correr e a contar com a presença dele nas próximas metas que alcançar.