terça-feira, 30 de julho de 2013

Sesimbra Ultra-Trail 2013

Abril


Impõe-se aqui uma nota prévia a este artigo, uma vez que, apesar de respeitar a um evento que realizei em Abril, por várias razões não o publiquei na devida altura.

Pretendo agora com a sua publicação colocá-lo no lugar próprio.

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Estreei-me nesta prova em 2012, com resultados muito satisfatórios. Este ano foi o desastre e a 2ª desistência da minha carreira de atleta.

O dia começou bem, a viagem pacífica, ao contrário do ano passado não se adivinhava chuva, antes pelo contrário, o dia previa-se quente.

Levantar o dorsal, cumprimentar as caras conhecidas e pouco antes das 7hrs lá estava eu, bem lá atrás, aguardando pacientemente pela partida.



Mas esta paciência foi-se assim que ouvi o tiro de partida!

Lancei-me por ali acima, sem cautela, à confiança.



A história da minha participação nesta prova, fica assim resumida a mais uma lição de humildade e de consciência das minhas capacidades em determinada altura e dos meus limites. É o como não se deve fazer uma prova quando não há pernas para tal!!

Treinei pouco este ano. Já em Fevereiro, na minha viagem a Runa, senti que a condição física nada tinha de comparável com a do ano anterior. Mas em Runa, houve uma diferença, que foi a atitude com que encarei não uma prova, mas sim um evento muito especial. Em Fevereiro não liguei ao relógio, no passado 14 de Abril só liguei ao cronómetro.

O resultado foi que a partir dos 20Kms o 'fuel' acabou. As pernas simplesmente recusavam-se a andar. A subir fazia um esforço enorme e em plano nem correr eu conseguia. Já no Cabo Espichel sentia grandes dificuldades de progressão, mas quis dar algum tempo e arrastei-me até aos 30Kms.

Desisti.

Correr ... Por quem não esqueci - 2ª Edição

Fevereiro


Impõe-se aqui uma nota prévia a este artigo, uma vez que, apesar de respeitar a um evento que realizei em Fevereiro, por várias razões não o publiquei na devida altura.

Dada a natureza do mesmo e também o respeito que devo aos intervenientes e envolvidos na 'Minha Jornada', tinha que vir aqui terminar o que passados alguns dias do 3/FEV escrevi e publicá-lo, tentando assim colocar no lugar próprio este evento que sublinho, é o mais importante da m/época.

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E chegou mais um 03/02 e mais uma visita à minha Mãe, em Runa, a cerca de 50Kms de casa.

O meu dia de viagem começou às 04:00, com um bip do despertador do tlm. A noite de sono foi curta. Apesar de só ter conseguido deitar-me já depois das 00:00, acordei 2 vezes, não sei bem porquê, ou até sei ...

A laranja + higiene + peq almoço (hoje mesmo pequeno ...) + equipar, foram as etapas que antecederam a saída.

Esteve mais uma vez uma manhã muito fria, com vento a soprar maioritariamente contra, por isso, quando comecei a minha viagem às 05:15, fi-lo em passo apertado. Estava muito frio, tinha mais de 50Kms pela frente e aconselhava-se um aquecimento.

Desta vez o dia calhou a um domingo, em teoria com menos carros do que em 2012.

Fisicamente estava menos preparado que em 2012, mas essa é uma questão menor, perante o objectivo que constitui este evento.

Acertei alguns pormenores do equipamento e do abastecimento com a experiência do ano passado.

A táctica para esta viagem, voltou a ser a que segui na 1ª Edição, com excelentes resultados: sem pressas, subidas a passo e o resto a correr a um ritmo o mais aproximado possível dos 8Kms/Hora.

A 1ª parte liga Queijas a Queluz, atravessando a Estrada Militar. Percurso sensivelmente a subir e muito escuro.

Depois de Queluz, segue-se a ligação a Belas, junto ao Aqueduto e à CREL. Maioritariamente subidas, com muitas curvas e poucas bermas. É sem dúvida a pior parte do trajecto, principalmente à tarde, quando faço o regresso, porque passo aqui em hora de ponta, é um local escuro e sem bermas, não tenho como fugir dos carros que se cruzam comigo. Mas essa parte já lá virá, continuemos na ida.

Sendo um domingo, pouca gente se vê na rua, embora aqui em Belas seja dia de Feira e a azáfama seja já muita.

1ª hora de viagem e 8Kms.

É uma parte essencialmente mental. A hora do dia, o escuro, o frio e o facto de não correr, por ser essencialmente a subir, puxa pela cabeça enquanto o corpo aproveita.

Às 05:53 o 1º sms:
"Aqui Centro de Controle da Toca da Raposa Manca! Estamos no nosso posto! Força Alex!"

Uma vez mais a sorte de poder contar com um aliado de força. Só ele, eu e quem como nós tem gosto pela corrida a pé, sabe a força que representa ter alguém a incentivar o nosso esforço, seja ao vivo, seja por qualquer outra forma. Em esforços com as características deste, em solitário e acima dos 100Kms, esse contacto é ainda mais importante e motivante.
Entre amigos diz-se que não há agradecimentos, eu sei! Mas paciência: Obrigado por tudo Jorge Branco!!

2ª hora de viagem e 16Kms.

Acabei de passar Caneças e vou agora em direcção a Vale de Nogueira. Uma terreola lá mesmo no fundo. É por isso agora tempo de correr. Passa alguma coisa das 07:00 e o sol vem aí!



Escrevi um apontamento: "Para a próxima vez não trazer garrafa de água na mão"

Na dúvida acabo sempre por trazer coisas a mais. Desta vez foi uma garrafa de 50cl de água, a juntar a mais 3x0,5lts que trazia na mochila e no bidon de cintura. Foi demais e aquela garrafa na mão enervou-me.

Ponte de Lousa e Lousa são as etapas seguintes em direcção à Póvoa da Galega e ao desejado reforço de pequeno almoço.



3ª hora de viagem e 24Kms em Ponte de Lousa.

Desta vez a minha trouxa foi composta por: 1 sandes de fiambre e 1 sumo/polpa (roubado ao Alex Jr.) + 4x0,5lts de água + 3 porções de bolo energético (desta vez ainda ficou mais intragável do que na versão de 2012!! Só consegui comer 1 porção ...) + 1 banana + 2 doses de amendoins com sal + 10 bolachas chipmix com sultanas + 1 dose de figos secos + 2 barras energéticas. Na ida não comi estes últimos 3 itens.

4ª hora de viagem e 32Kms na Póvoa da Galega e finalmente um café!

Antes, a alguns metros, foi a sandes + sumo e depois foi um queque e um café escaldado, que souberam divinalmente.

A manhã está cheia de sol, embora fria. Sinto-me bem. Aqui e ali mais uma dose de adrenalina com mais um sms do Jorge.

5ª hora de viagem e 40Kms. Estou nas Malgas. Zona já com algumas descidas, onde o passo sempre anima e também o espírito, porque me aproximo do meu destino.

Por esta altura começo a sentir o calcanhar direito. Há qualquer coisa de errado porque os sapatos escolhidos são de absoluta confiança e já muito rodados. É então que concluo que a culpa é das palmilhas! Troquei as palmilhas com as dos GT2150, que por terem menos uso que estes e serem o mesmo número, me induziram na falsa ideia que daí resultariam benefícios.

Errado! Muito errado!!

Paro e inspecciono o pé. Há uma zona junto ao calcanhar onde já é evidente o conflito do pé com algo que não seria suposto estar ali. Claro que o factor tamanho é importante, mas a forma de um e de outro sapato, que concluo não serem iguais,. também não é menos importante.

Claro que daqui retiro + uma lição, sobre o tema já tão debatido, (mas raras vezes assimilado) acerca das "... estreias e novidades em dias de evento ..."

Recordo a UMA de 2012, em que me passou qualquer coisa pela cabeça, ainda estou a tentar perceber o quê, para escolher fazer aquela prova, com uns sapatos com que nunca tinha feito sessões superiores a 2horas!!

Voltando ao meu calcanhar, tinha de minimizar o atrito e coloquei uma boa dose de vaselina, voltando a calçar-me.

Aproveito aqui para comer 1 banana e lanço-me para a última parte do meio dia da manhã. É a parte mais fácil, esta entre os 40 e os 50Kms. Essencialmente a descer e já com o espírito lá!

Recebo um mms do Jorge "Parabéns Alex. Eu cá estou na toca para te acompanhar no regresso. Abraço"

Sem palavras ...

Tiro novamente a foto, que começa a ser da praxe, à placa de Runa.

 Cheguei mais uma vez!

Desta vez sou o 1º a chegar. Surpreendi todos porque em relação a 2012 venho mais cedo cerca de 30'.

Consigo assim uns momentos mais a sós, que me sabem muito bem.

Desta vez não me esqueci de desligar o 'Silver' para também ele poder descansar um pouco e conseguir aguentar o regresso a casa. No saco que desta vez vem (...) no carro de apoio, vem o carregador, que irá servir para 'alimentar' o meu fiel companheiro de viagem.

Passo alguns instantes a matar saudades. Minutos preciosos estes, que tento aproveitar ao máximo. Quase que desejo que não venha mais ninguém. Naqueles momentos eu quero ser egoísta!

Nem sinto a roupa molhada a arrefecer no corpo. Se bem que o dia esteja bonito e o sol aqueça um pouco.

Chega a Família e depois de mudar de roupa vou almoçar. Uma sandes de presunto acompanhada com batata frita e duas minis. No final remato com 2 tangerinas. O Alex Jr. naturalmente capta as atenções e estamos todos na brincadeira por alguns minutos.

Por mais que eu quisesse, não consigo evitar que esta paragem dure menos de 1hr. Mas também não faz sentido estar com pressas.

Coloco na mochila os abastecimentos para o regresso:
1lt. de água, 1 sandes de presunto, 1 coca-cola, 2 tangerinas, 1 banana, 2 doses de amendoins, 1 dose de bolacha com sultanas, 2 doses de figos secos, 1 barra e 1 gel energéticos. Disto tudo, no final, não comi nada dos últimos 4 itens.

Passa das 13hrs e estou em pulgas para me meter a caminho. O arranque é sempre penoso, seja porque me vou embora donde não queria ir, seja porque estive parado cerca de 1hr e o corpo arrefeceu, ou seja mesmo porque o trajecto de retorno começa logo com subidas. Mas arranco para logo á frente voltar a parar. Com a distracção esqueci-me e vesti corta-vento e o gorro, que neste início de tarde com sol e temperatura bem amena não fazem para já qualquer falta. Aproveito ainda para ligar agora o meu MP3, carregado com cerca de 4GB de música para dar ânimo neste reinício.

Já no ano passado só o havia ligado à tarde. Digamos que a manhã serve mais para a jornada e a tarde já se torna mais físico...

A música  ajuda ao recomeço, mas dos 50 aos 60Kms custa muito! O corpo arrefeceu e não está com vontade nenhuma.

Às 15:30 novo sms do Centro de Controlo: "Força Alex, eles estão à tua espera". Como anexo à mensagem uma foto da participação no Run & Bike da Meia Maratona de Queluz, com a restante equipa Alex Jr. e Dora.

Esta atenção, esta disponibilidade sensibilizam e dão um alento do camano e do catano!!

A partir dos 60Kms o ânimo retorna, o corpo também e o MP3 ajuda. Já o ano passado aconteceu e neste voltei a beber muito mais água no regresso. A temperatura neste início de tarde é agradável e os Kms sucedem-se sem grande esforço. Dá a impressão que venho mais lento este ano em relação a 2012.

Aqui e ali vou captando algumas imagens.



Por volta das 16hrs é a minha Filha a motivar: "Bora campeão, tu consegues!"

Este é também um dia em que os sinto mais comigo, provavelmente porque eles também sentem que retiro durante algumas horas a habitual armadura com que normalmente disfarço os sentimentos.

Perto das 18hrs estou de volta a Vale Nogueira e o dia começa a arrefecer. É altura para voltar a vestir o corta-vento e enfiar de novo o gorro. A temperatura baixa e há que proteger o corpo.


" TÁ FEITO CAMPEÃO " envia-me o Jorge via sms, às 17:54. Não está ainda FEITO como incentiva o Jorge, mas já faltou mais!!

Por volta dos 70Kms e porque o calcanhar tem vindo a queixar-se, descalço-me e vejo que tenho um calcanhar na bolha!! Ou seja, a bolha que fiz, já é quase maior que o calcanhar. Nada há a fazer agora para além de aguentar.

Estou naquela fase em que pouca coisa me faria parar e/ou desistir. A parte de Caneças, ligeiramente a descer, é horrível do ponto de vista de segurança. Chego aqui invariavelmente de noite, a zona é quase exclusivamente curva e contra-curva, sem bermas e com muros altos que retiram qualquer visibilidade. Mesmo a um domingo, o trânsito é menor mas não deixo de andar aqueles Kms em sobressalto.

Mas a jornada está prestes a terminar. Passada a zona de Queluz, segue-se a Estrada Militar que liga Queluz a Queijas. Passo a meta dos 100Kms e registo-a.


Mais alguns Kms e entro em Queijas. Agora é sempre a descer e estou de volta a casa.

Um misto de alegria por ter conseguido, pelo 2º ano consecutivo fazer a jornada que mais significado tem para mim e por outro lado alguma tristeza porque nunca sai como eu desejo, há sempre algo que falta, neste caso esse algo é tempo, é algo que não é possível obter, porque o tempo esse, nunca anda para trás.

Resta-me a alegria de ter contado uma vez mais com o apoio da minha Família e claro, do Jorge Branco, companheiro que pelo 2º ano constituiu uma preciosa ajuda ao longo de toda a minha jornada. Posso até afirmar que não fiz a jornada sózinho, fiz acompanhado e bem, por todos eles.


No final a minha jornada em alguns números:
Distância: 103,05Kms
Tempo: 13:16
Ritmo médio: 7:44min/Kms
Calorias: 8104

Os pormenores.