
Sábado, dia 7 de Janeiro de 2012, pela frente + um treino especial, o 1º do ano.
Tinha visto a proposta lançada no Fórum, poucos dias antes, e fiquei logo preso ao desafio lançado. Começou por ser o UTAN - Ultra Treino de Ano Novo a que alguém acrescentou
UTANascentes.
O objectivo era unir, as Nascentes do Almonda e do Alcoa e andar cerca de 50Kms no Parque Natural das Serras de Aires e Candeeiros.
Quem lançava o desafio era nada menos que a
Família Serrazina. Jorge o único que até aqui tinha o privilégio de conhecer e agora o Luís, responsável pelo percurso que iríamos percorrer.
Fiquei ‘preso’ à proposta e à envolvente em que a mesma se realizaria.
Interrogações, claro, para a extensão …
Sexta-feira deito-me por volta das 24:00 e coloco o despertador para as 04:00!! Nunca na m/vida me tinha levantado tão cedo!! Mas quando o despertador tocou, devo tê-lo desligado de forma automática e fiquei “só + 5’”. Acordei, passados os meus calculados 5’ (!!!) e iniciei calmamente a rotina das madrugadas de corridas. Afinal, para mim, pouco passava das 04:00am!!
Estava eu nas lavagens quando o Alex Jr. acorda. Fico em pânico!! Aquela hora o rapaz acordar poderia significar atraso pela certa. Mas o rapaz apenas precisava dum aconchego e passados 5’ lá voltou a pegar no sono.
Volto para as lavagens e é aí, depois dos olhos realmente lavados que vejo as horas (!!!!) são 05:30!!! O ponto de encontro, a cerca de 100Kms de distância, deveria ser alcançado às 06:30 e eu estou ainda em boxers!! Visto-me a correr, como a correr e saio para a viatura. São 05:45.
Quando coloco as coordenadas que o Jorge tinha indicado, congelo!!! A hora de chegada que o GPS indica é às 07:01!! Altero logo a rota definida e redirecciono-a para a CREL – Carregado e A1. Ultrapassados muitos limites de velocidade, passo em Aveiras às 06:20 e ligo ao Jorge. Tinha + cerca de 25’ de caminho pela frente e precisava que esperassem por mim.
Logo o Jorge me descansou, pois ainda faltavam cerca de 3 elementos. Cheguei ao ponto de encontro às 06:42. Nada mau. Cerca de 10’ de atraso, dadas as circunstâncias, era aceitável!! Faltavam 2 elementos e fiquei + calmo. Ainda tive direito a um café que me soube 5*****.
Passados poucos minutos era dada a ordem de marcha, para o nosso ponto de partida, na Nascente do Almonda. Fui a correr ao carro, enfiei o que me lembrei no saco e em passo de corrida fui para a carrinha. Eram cerca de 30’ de viagem, e o sol começava a clarear a manhã fresca. Começava-se logo ali a visualizar paisagens esplêndidas. A meio do caminho, olho para as minhas calças e o símbolo do fabricante – Nike, a branco.
“ A branco ? “ interroguei-me.
“Mas este símbolo parece-me que sempre foi preto, desde que comprei as calças!!” Calmamente baixo-me e apalpo a zona dos fechos nas pernas e constato que estão virados para dentro!! Conclusão: com as pressas vesti as calças ao contrário!!
“Espero que tenha tempo para as virar, antes de partirmos”. Chegámos à nascente do Almonda, territórios já conhecidos desde que em 2010 fiz o Trail, a prova que com distinção o
Aníbal Godinho organiza anualmente.
Lá fui a correr para trás dum arbusto e com um rápido ‘streap tease’ as calças foram vestidas correctamente. Pouco tempo para preparar e mais uma surpresa: não trouxe o bidon! Portanto, estava sem nada para beber, durante os próximos 50Kms, e completamente entregue, portanto, aos abastecimentos organizados.
Em troca do bidon, decido-me a levar comigo a máquina, para ilustrar esta aventura, prestes a começar.

Após a foto da praxe, junto à nascente do Almonda, a actividade inicia-se, passavam alguns minutos das 08:00, e os 18 participantes começam a galgar a ‘parede’. O sol tinha nascido há alguns minutos e as vistas são de tirar o fôlego.
O pelotão vai intervalando o andamento em passo forçado e a corrida. Vou na cauda, com a Célia Azenha, a quem já tinha acompanhado na edição de 2010 do Vale de Barris.
O PNAC abrange uma área de cerca de 35.000 hectares de maciço calcário e tenho a impressão que passamos por cima dele todo. É pedra, pedra, depois + pedra e ainda +pedra!!
Stº António, Alvados, Minde, são nomes que vou ouvindo e por onde vamos passando. Mas o que fica mais gravado na m/cabeça e principalmente no meu corpo é o Carrasco. Este arbusto inunda as numerosas encostas que vamos passando, ora para cima, ora para baixo, por vezes com inclinações que assustam.
Não sou do campo. Não estou acostumado a treinar por cima de pedra e através do carrasco e trovisco. O Luís Serrazina, por exemplo, fez todo o caminho com calções (!!!).
Gradualmente os Kms vão passando. Por volta da ½ Maratona o dedo começa a doer-me e vai andar assim durante uns Kms e um bom par de horas.
Os abastecimentos são 6******. Foram cerca de 5, se não estou enganado e onde eu aproveitava para beber o que conseguia (!!!). Água, sumos, cerveja, broas com frutos, pão, queijo, doce, bananas, tangerinas, maçãs era basicamente o que era disponibilizado, por uma equipa de voluntários que nos acompanhou todo o dia. Para eles o meu muito obrigado!!

Principalmente as descidas, gradualmente, vão-me custando mais. Os pés estão muito doridos, pela enorme quantidade de pedras que estão no nosso caminho.
É de realce o cuidado que os nossos anfitriões nos dispensam. Geralmente ocupo a cauda do pelotão, juntamente com a Célia Azenha, que em modo de Pausa, se prepara para mais uma das suas épocas em grande, em que percorrerá + Kms do que eu hei-de percorrer em 3 ou 4 das m/épocas. Mas somos sempre acompanhados seja pelo Jorge seja pelo Luís. Ocasionalmente, lá à frente faz-se uma pausa e o pelotão volta a reagrupar. É isto que eu entendo por um treino em conjunto, onde o convívio fala mais alto que as performances individuais.

Este não é claramente o meu pelotão. A grande maioria daquele pessoal são ultra maratonistas, habituados a Kms que para mim são impensáveis. Família Serrazina, com destaque para a Glória, que parece que nem pousa os pés nos milhares de pedras que percorremos, Aníbal Godinho e outros. Outra parte do grupo é pessoal novinho, provavelmente com cerca de metade da m/idade, e a quem os Kms não pesam ainda!
Mas nunca me senti sozinho. A maioria do pessoal esteve muito tempo parado á espera dos mais lentos e isso criou um espírito de grupo excepcional.
De vez em quando passamos em terrenos um pouco mais soft e aí corre-se um pouco e sabe bem. É um ‘spa’ para as solas dos pés.
Atingimos o último abastecimento com o sol quase a desaparecer e temos já a certeza que iremos chegar de noite. Descemos mais uma encosta acentuada, mais carrasco e mais pedra à descrição e atingimos finalmente terrenos mais baixos e planos.
Iniciamos a última parte do n/trajecto e a Glória passa à minha frente. Colo-me nesse grupo, que tento acompanhar. Mas a Glória está fresca (!!!). Sei que atrás de mim vem o Jorge e o Aníbal e numa bifurcação, opto por não arriscar e espero por eles. É com eles que vou então o resto do trajecto, até ao final, por um caminho iluminado pela lua cheia. Até ela ajudou à jornada.
Chegamos à nascente do Alcoa por volta das 18:30 e a m/aventura está terminada.
Mudo de roupa, agarro-me a um pacote de sumo de uva, sumo mesmo (…) e mato a sede.
No caminho o Jorge comenta que a jornada de hoje foi um
“aquecimento”!! Amanhã há provas de corta mato para os distritais!! Está a gozar comigo. Só pode!!
São cerca de 15’ de retorno até à ‘base’. Lá, já está outra equipa que preparou uma longa mesa com vária comida, para nos receber. Tenho de ir embora. Lamento muito Jorge e Compª, mas não posso ficar. Para não ser completamente insensível a quem esteve quase todo o dia a cozinhar para nós, aceito uma canja, que me sabe como há muito não sabia uma canja. Pudera, esta canja foi bem sofrida!
Tenho de arrancar e terminar a m/aventura.
Agradeço ao Jorge, Luís e a todos os Serrazinas que tão bem nos receberam, tão bem nos orientaram e guiaram num dia rico de emoções.
Agradeço à equipa que nos proporcionou os abastecimentos. Foi mais um ponto alto nesta organização.
Agradeço às senhoras que na base estiveram a cozinhar e apresento as m/desculpas por ter saído sem ter provado nada mais para além da canja de galinha!
É isto que gostaria de fazer.
É um pouco tarde. Estou um pouco fora de tempo, eu sei. Com os meus 51 anos é já difícil acompanhar grupos com a rodagem que este tinha. Mas é isto que gostaria de fazer. Correr assim é muito diferente.
Os Serrazinas mostraram como se faz bem um convívio a correr. Um exemplo.
Obrigado a todos
Nas contas dos meus treinos ficaram +50Kms e cerca de 10 horas de actividade!