terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Maratona de Lisboa

A época 2012/2013 está no início.

Começou este ano com uma estreia no Monge, em excelente companhia do meu filho + velho Guilherme e dos meus amigos destas andanças Jorge Branco e Víctor Silva, que rapida e naturalmente foram adoptados como Padrinhos de 'baptismo' do rapaz!

Seguiu-se-lhe a inevitável Meia da Nazaré e agora esta, a Maratona de Lisboa, que termina o ano chamado de 'civil'.

Depois das férias de verão, propositadamente de descompressão também em termos de corrida, para poupar o esqueleto, simplesmente não me apeteceu começar em força com os treinos. Normalmente, os treinos recomeçam na 2ª quinzena de Setembro e esta ano pura e simplesmente não me deu para ali!!

Passou-se Setembro, passou-se Outubro e passou-se Novembro. Cá o rapaz a fazer 3 corridinhas semanais, de manutenção, sempre descontraidamente, nada de específico, mas a manter uma certa rotina corporal.

Na Nazaré o teste foi superado, com distinção. No final e após um aquecimento de 17Kms o tempo final abaixo da 01:45'.

Mas a Maratona está longe de ser 'apenas' duas Meias Maratonas.

Como já me conheço há uns anitos, à partida confessei-me  "...nem vale a pena planeares uma Maratona calma, porque já sabes..."

Os 5'/Km andavam a zunir ao ouvido há muito tempo. Experimentei na Nazaré e a coisa até se aguentou. Por isso olha ... não há-de ser nada e vai ser para sofrer ...

Às 08:55, na recta junto ao 1º de Maio, confessava-me ao Francisco Monte: hoje vai ser para doer. Para a 1ª parte sei que dá, até porque a 'coisa' é sempre a descer, depois será o que o corpo deixar!!

Assim que a partida é dada procuro o balão das 03:30!! Era este o desafio naquela manhã fria. 03:30!!

Parto sempre muito atrás. Facilita em termos de aquecimento, de ambiente, em termos de cheiros, em termos de cotoveladas e pisadelas mas dificulta noutras coisas, entre as quais o tempo que se perde até se conseguir correr qq coisa.

Outra coisa que é habitual em mim é gostar de começar calmamente e depois ir aquecendo, devagar, davagarinho e só após os 5 ou mesmo 10Kms começar num passo mais certo.

Mas para cumprir o meu objectivo havia que arregaçar logo de início e para agarrar o 'bandeirola' tive de dar ás canetas naquele 1º Km.

Assim que o agarrei colei-me que nem lapa. Eu e mais alguns 50 taradinhos, que rodearam o rapaz qual bóia de salvação no meio dum mar agitado e inóspito!!

Mas no início das provas longas eu vou cheio de água e nesta 1ª Meia fui obrigado a ir à latrina 2 vezes. Se juntarmos a estas duas paragens mais 4 nos abastecimentos, em que parei em todos para beber alguns goles de água, aqui está a explicação para alguma inconsistência no ritmo que consegui na 1ª parte da prova. Se me atraso mesmo que sejam 'apenas' 200mts, é um esforço suplementar que tenho de fazer para os recuperar e tenho a certeza que isto é pura e simplesmente falta de treino. Porque tudo se treina, até o básico de beber água e correr em simultâneo.

De resto foi como planeara antes da prova. A 1ª parte é realmente fácil. Tirando algumas subiditas, aquilo é um passeio. Mas o passeio se é em demasia paga-se caro, logo a partir do Cais do Sodré.

Embora em esforço, a partir dali aumentei a concentração no Km a Km. Lembrei-me da táctica do Francisco "... é olhar para o chão e continuar ..." . Procurei evitar tudo o que me causasse 'atrito' fosse de que género fosse. A partir dos 30Kms há muita coisa que causa atrito!!

A concentração de malta à volta do 'pacemaker' começou a enervar-me, com pessoal que não dá um milímetro entre eles e o sujeito da bandeirola. Já depois do retorno, afastei-me propositadamente daquele magote. Outra coisa que me enervou foi o pessoal mais atrasado da Meia Maratona. Eu sei que ele têm o mesmo direito que eu a andar ali. O facto de eu estar a correr a um ritmo exigente (pelo menos para mim ...) e eles irem em 'passeio', não me dá o direito de exigir ou esperar que eles se desviem por simpatia. Mas porque é que têm de fazer a Meia Maratona a andar e ainda por cima em paralelo, alegremente na conversa e a ocupar por vezes quase toda a largura da via disponível para correr??

É o eterno confronto de interesses, entre aqueles que têm expectativas de um qualquer obstáculo a ultrapassar e os outros, aqueles que consideram aquilo como uma simples manhã de convívio entre amigos!! Sinceramente por vezes inclino-me a que sejam eles que têm razão ...

Depois foram os abastecimentos, em que há pessoal que se atravessa positivamente à frente de toda a gente para agarrar a 1ª garrafa que é oferecida, na 1ª mesa de várias com abastecimentos. O pessoal da organização bem gritava "há mais garrafas à frente" mas para quê, era aquela, a que o pessoal queria a toda a força agarrar e depois era tudo a desviar de todos para evitar quedas!!

Enfim, já com muito desgaste (em vários aspectos) cheguei à Pç. do Comércio e pura e simplesmente a cabeça quebrou. Assim que começamos a subir a Rua da Prata fico-me para trás e lentamente vejo a bandeirola a afastar-se. É o 'Muro'!!

É o pior período. Martim Moniz, Almirante Reis. Em dia de Maratona odeio aquelas zonas de Lisboa!!

A bandeirola vai a cerca de 200/300 mts à minha frente e eu lá vou em direcção ao enorme prédio cor de rosa lá em cima, no Areeiro. Na Pç. do Império vejo á minha frente o Eduardo Santos. Cumprimento-o e ele pergunta-me com que tempo vamos. Respondo-lhe 03:13hrs e sigo caminho!

Poucos metros à frente passo a marca dos 39Kms, faço contas e de súbito a vida volta ao meu corpo!!

Espera lá!! Se vou com 03:15 aos 39Kms, tenho mais 3 Kms para fazer a 5'/Km!! É ainda possível!!

E todo torto lá experimento qualquer coisa que eu queria que se parecesse com um aumentar de ritmo, mas que devia parecer tudo menos isso a alguém que por incrível que fosse observasse por acaso o meu movimento. Em direcção à Av. de Roma acelero o que posso. Lá apanho novamente pessoal lado a lado alegremente em domingo de passeio e eu ali, com os bofes de fora a ter que ziguezaguear por entre eles.

Os espanhóis cheios de vida e garra puxam pelos seus. Os nossos, os portugueses não tiram as mãos dos bolsos, para não arrefecerem!!

Chego à Av. dos EUA e agora são 300mts a descer e lá vou eu, perto da síncope!!

Viro para a Av. Rio de Janeiro e o Estádio parece estar mais afastado do que há poucas horas atrás.

Entro no Estádio e começo a olhar de imediato para o pórtico, com o cronómetro que só consigo ver quando entro na recta da meta.

A marca das 03:29:5x está a virar e aí acredito, vou conseguir!!

E consegui. 03:30:08!! Se a Maratona fossem 'apenas' 42Kms tinha baixado as 03:30hrs. Com as esquisitices fizeram-na com mais uns metros e só por isso passei uns segundos daquela marca.

Fiz qualquer coisa muito parecida a isto em 1990, na minha 2ª Maratona, uma que terminou na Praça do Município, tinha eu os meus 30 anos.

Fiquei contentíssimo e prometi a mim mesmo que agora é que eu me vou esforçar, agora daqui prá frente, para entrar em beleza em 2013.

Seguem-se projectos importantes, aliciantes e desafiantes. Para já são apenas projectos, só em Janeiro decidirei.

6 comentários:

  1. Credo que grande marca!
    Pois eu fiz todas as minhas 4 maratonas abaixo dessa marca mas foi na década de 80!
    Agora, agora se voltar a fazer uma maratona não é coisa para menos de 5 horas!
    Já não tenho físico para essas aventuras.
    Mas fizeste mesmo um grande tempo. Só que estas a entrar outra vez na ata competição caseira! Vale a pena? bem cada um tem que ser feliz ao seu jeito!
    Para mim o cronometro acabou! Agora só me interessam as distancias e correr por prazer!
    Se calhar com as tuas capacidade atléticas andava par ai a fazer maratonas em contra - relógio!
    As vezes até me sinto aliviado por estar todo coxo: pelo menos acabou-se a mania de correr depressa. É cá um descanso!
    Grande abraço.

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  2. Muitos parabéns! Que tempo!!!

    Um abraço

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  3. Grande Alexandre, acabei de ler uma excelente lição de como se vive por dentro a realização de uma grande Maratona, o aspecto crítico do nosso comportamento durante o nosso esforço é muito importante, é ali que as feridas vêm todas ao de cima e conseguimos descernir o mal e o bem que fazemos não só enquanto dura o esforço mas também aquilo que fizémos antes de ali chegar, pena é que acabado aquele momento nunca mais pensemos nisso e na próxima oportunidade continuamos a cometer os mesmos erros, contudo acredito que fica sempre alguma coisa para a fase seguinte em que a riqueza das nossas vitórias marcam sempre uma enorme satisfação e a vontade de lá voltar novamente. Um grande abraço de parabéns pela vontade e conquista dos teus objectivos para esta prova, ainda que arrancados a ferros.

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  4. Grande prova Alexandre. Parabéns!
    Estas experiências são absorvidas por mim, novato nisto, como que de alimento se tratasse.
    Obrigado pelas tuas partilhas.

    Forte abraço!!!

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  5. Alex
    permite-me uma rectificação, o teu tempo foi 3h28'38'', tempo de chip, o que conta já que como bem disses partiste bem atrás, muitos parabéns pois por teres feito uma grande maratona teres batido as 3h30'.
    Força Alex, 2013 promete.
    Amigo (de Alex) António Almeida

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  6. Não me levem a mal o João, o Joaquim, o Pedro e o António, os V/comentários são preciosíssimos para mim. Mas o comentário do Jorge toca num ponto sensível, que é a forma como se encara isto das corridas a pé. E claro companheiro, claro que tens toda a razão!! Será que é isto que vale a pena? Será que o facto de voltar a fazer tempos de há 22 anos atrás compensa o risco de arranjar uma lesão e voltar a interromper outra vez esta actividade que adoro que é a corrida?? Tens razão Jorge e aos 52 anos claro que nada compensa o risco de colocarmos o nosso corpo em cheque, como de facto fiz no domingo de manhã. Estas 1ªs partes das m/épocas actuais metem estrada e na estrada eu perco a cabeça. Agora vêm aí as coisas realmente bonitas e prometo reflectir sobre as tuas sábias palavras!! Abraços

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