Eram 04:00am quando o despertador do tlm me despertou para o dia que ansiava há umas semanas a esta parte. Saltei da cama!
O Alex Jr. disse-me adeus. Acordou (de propósito aposto) precisamente 5' antes das 04:00!!
A rotina (calma) das manhãs de prova repetiu-se sem grande alteração. Fruta, Água, Higiene, Água, Saco, Água e mesmo antes de sair Água e um Pequeno Almoço Nestum com Mel.
Saídas às 05:30 e viagem para Setúbal igualmente sem história, apenas o eterno stress, habitual doutras manhãs. As indicações para o ferry funcionaram e estacionei o carro em Setúbal, a 100mts dos barcos, exactamente às 06:00am, tal como o planeado.
Como 'maçarico', o natural vai e vem à procura do terminal correcto e a bilheteira. Logo ali encontro o Victor Silva, o Luís Parro e o Fernando Andrade, já em pré-aquecimento a correr dum lado para o outro!!
Viagem para Tróia em meditação e a olhar (sem ver ...) a TV.
Autocarro para Melides, com o Victor como guia, a enfatizar o tempo (40') necessário ao autocarro e chegar ao destino e a (re)lembrar que haveria que fazer o sentido inverso, para voltar ao início ...
Disparado para levantar o dorsal, desta vez calhou-me o 111, um café e ocupação selvática de uma mesa na esplanada, para espalhar todo aquele material e preparar-me para as 09:00am.
A vaselina aplicada com abundância nos pés, os sapatos protegidos com uma fita adesiva para a areia, a mochila com 1,250ml de água, 0,500ml de isotónico, 3 barras energéticas, 3 embalagens de gel, 3 cubos de marmelada, 1p de peúgas, uma tabela com 3 cenários de tempos de passagem e o mp3.
Creme protector do Alex Jr. na cara e do meu nas pernas e braços.
Estava pronto! Eram 08:40am. Para a Partida.
O 'briefing' já decorria, o Carlos Lopes, o record de presenças, o abastecimento aos 28.5 e o habitualmente esquecido pedido para não se deixarem lixos nas praias!
O chi-chi do nervoso e às 09:00 o tiro soou!!
Fui em frente, pela parte da areia seca mas nivelada, a tentar inconsequentemente encontrar uma faixa de areia dura.
Sentia-me muito bem, finalmente integrado na UMA. Uma prova que desde que dela tomei conhecimento me deitava um feitiço especial. Diria mesmo que seria o
perfeito do óptimo que é a Meia-Maratona da Areia.
5,5Kms acima dos 08:30"/Km. Nada de preocupante. Afinal era o cenário mais contido e se tudo corresse bem, muitos kms ainda faltavam. 1 Gel e água.
8,5Kms ainda acima dos 08:30"/Km. Nada de preocupante ainda. Afinal estava sobejamente avisado que as condições este ano eram as mais complicadas. O adesivo entretanto saltara dos sapatos. Os meus sapatos (Asics 1090) de estrada, revestidos a rede, revelaram-se inadequados para este tipo de prova claro!! 1 Barra, 1 Cubo de Marmelada, 1 bidon de isotónico e água.
8,5Kms aproveitei umas cadeiras esquecidas a 50mts da água para a 1ª mudança de meias.
Durou pouco tempo a sensação de pés sem areia. Passado 1km já sentia novamente os pés com areia ...
10Kms nova mudança de meias.
14,5 e 18,5Kms os meus melhores trajectos na prova. Sentia-me bem. As pernas reagiam bem, embora o piso não alterasse em nada. Tentava não seguir a passo, tentava continuar numa corrida bem curtinha, tipo 'trote'. Andava a cerca de 08:00"/Km e sentia-me confortável naquele passo.
18,5Kms aproveitei um posto de vigia do nadador-salvador e mudei novamente de peúgas.
20Kms começa o 'Inferno'. O terreno não altera 1mm. Acho mesmo que está pior do que à partida. Dou comigo a odiar a praia. A odiar o mar que não baixa. Aliás, nem dei por que estivesse em plena baixa-mar!!
Ainda pensei no MP3, guardado na mochila, mas pensei que não iria resolver nada, possivelmente complicar e deixei-o guardado.
Começam os trajectos a andar. Os pés enterram-se completamente na areia grossa perto de água e as pernas começam a pesar.
Mudo novamente de meias, mas realmente os sapatos revelam-se um completo fiasco. Ou serei eu o fiasco?? Eles são
sapatos de estrada, é suposto serem arejados ...
Muita hidratação, mais 1 barra e isotónico, mas o remédio não era aquele!!
Calculo que por volta dos 25Kms comecei a pensar em desistir. Aquilo seria um sofrimento enorme 1º chegar aos 28,5 e depois ainda, prolongar por mais cerca de 15Kms.
Experimentei tirar os sapatos e correr só com meias. As coisas melhoram um pouco. A sensação de leveza que experimentei ao tirar os sapatos permitiram fazer +1 série a trote, talvez 1Km.
Algum tempo depois vislumbrei uma acumulação de pessoal, a anunciar o Carvalhal e os 28,5Kms. Mais um trote.
Mas a areia não perdoava. Os pés enterravam-se completamente. O
ânimo, aquilo que faz mover tudo o resto, estava de rastos.
Pensava para mim "
não estou preparado para isto", "
não consigo aguentar +15Kms disto"!!
Tinha cerca de 04:30hrs de prova. Faltavam 15Kms de prova.
Dirigi-me ao pessoal da organização. Disseram-me que aquilo (o piso) estava assim até ao final!!
"
Desisto" digo para eles, com um amargo na boca e o ânimo de rastos.
Pouso os sapatos na areia e vou até à água, molhar as pernas e deixo-me ficar ali por alguns minutos a pensar.
Até hoje eu considerava-me um gajo lutador. Um gajo que não desistia, mesmo que em condições bem adversas.
A areia
mordeu-me,
mastigou-me e
cuspiu-me ali, naquele magote de gente que gozava um dia de praia e que obviamente ignorava o turbilhão de coisas que me passava pela cabeça naquele momento.
Os planos, os treinos, as horas fora de casa, as madrugadas, as expectativas, os medos, as dúvidas.
Fiquei ali 30' à espera de transporte para Tróia. Diziam que o transporte estava com excesso de trabalho ... diziam que já eram cerca de 50 os desistentes ... Nada daquilo me animava. Só queria que me levassem dali para fora. Queria virar as costas ao mar. Ao mesmo mar que adoro desde sempre!!
Finalmente chegou o transporte e eu acelerei até à carrinha. Deixou-nos a 1Km (!!!) dos sacos e da chegada. Disparei para lá, levantei o saco, tomei um chuveiro, disparei para cá e consegui apanhar o ferry das 15:10. Quando me sentei, completamente transpirado dentro do barco quase vazio, senti um enorme bem estar.
Estava seguro e de volta a casa!!
Grande Alex!
ResponderEliminarDesistir é acima de tudo um acto de suprema inteligência.
Mas só desistem o que têm a coragem de ousar tentar.
Impressionante o teu relato.
Posso imaginar um pouco do que sentiste pois na “auto-estrada” da Meia na Areia senti algo muito parecido mas em pequena escala.
Para o ano vais ajustar contas com as Areias de Melides pois deves estar para com elas com o mesmo sentimento com que fiquei em ralação as areias da Costa.
Tu até és “um corredor de praia” e vais superar a UMA assim como eu hei-de fazer melhor a Meia Na Areia embora não tenha prática nenhuma em correr em praia.
E olhe que o teu andamento até que ia bom, se calhar bom demais, já fizestes as contas do andamento que se tem que fazer para acabar a prova dentro do tempo limite? Se um dia enlouquecer completamente (já me faltou mais!) e resolver tentar fazer a UMA só me vou preocupar em chegar dentro do tempo limite.
Um forte abraço.
Olá Alex
ResponderEliminarsaúdo a coragem de partir, ontem foi mesmo duro, para o ano há mais.
Abraço companheiro.
Caro Alex,
ResponderEliminarNão deu este ano da estreia, calhou-te o pior ano assim logo de chapa...Sei que neste momento já terás em mente a data da próxima UMA.
Até á UMA 2011!!!!
Um abraço e Boa recuperação