segunda-feira, 18 de julho de 2011

UMA2011 - A aventura terminou

Manhã feia para os lados de Setúbal recebeu-me no passado domingo, dia 17 de Julho. Pela frente tinha a tarefa de me ‘vingar’ do desaire do ano passado, ano de estreia e conseguir concluir a Ultra Maratona Atlântica Melides – Tróia.

Objectivo único: terminar!

Alvorada às 04:15, saída às 05:00 e chegada a Setúbal às 05:45. Tudo rotina até aqui. O encontro com malta conhecida no barco e logo arranjei a compª do Victor Silva para a viagem até à outra margem. Lá, tínhamos as camionetas à espera e por volta das 08:00 chegámos a Melides. Caía uma chuvinha muito fininha, a temperatura era amena e o vento quase não se fazia sentir. As condições à partida eram por isso muito favoráveis.
Desta vez a mochila ficou em casa. Levei um bidon de cintura, com 600ml de isotónico e enfiado no cinto + 500ml de água. Numa bolsa levei energéticos (barras & gel), passas e amendoins salgados. Foi tudo o que carreguei.

Fora alimentação acompanharam-me nesta jornada o meu fiel ‘SILVER’, componente muito importante para o sucesso e o ‘clip’, o meu MP3 com músicas para todos os gostos.
Fila para o café, fila para os dorsais, fila para entregar o saco. Antes disso, fila para o bilhete, fila para o barco e fila para a camioneta. Muita fila tive que passar ontem. Até para começar a correr tive que esperar numa!!

Bem, mas às 09:00, mais coisa menos coisa, lá foi dado o tiro de partida e lancei-me nesta aventura, que não me saiu da cabeça no último ano.
Confiante nas notícias, que davam como certa a maré + favorável este ano, dirigi-me logo para a zona baixa, mais perto de água, mas aqueles Kms iniciais, mesmo com as tais facilidades, nunca são fáceis e mantive-me a correr, num corredor a cerca de 5mts da água, nestes 1ºs Kms.

10º Km em 01:10. Muito bom. Dadas as condições muito bom.
Aí apanho o Victor Silva. Fico admirado mas contente por poder ter companhia durante o tempo que eu conseguisse … Afinal não é fácil correr ao lado de tão apurado atleta, com um palmarés de relevo donde sobressai naturalmente o UTSF!
O piso era nesta altura muito bom e o ritmo subiu. Passei a andar em cadências perto dos 6’/Km. Aqui talvez o único e maior erro táctico na m/prova. Quis acompanhar o Victor e andei cerca de 10Kms a uma média de 6’/Km, o que para o meu nível é impensável. Aos 20Kms tinha assim 02:10hrs de prova. O Victor parou, para comer e eu segui. Aí voltei a descer, para ritmos mais condicentes com os meus objectivos e voltei para ritmos a rondar os 06:30/Km. Nesta altura começa igualmente o vento a ser mais forte.

Chego à Comporta (de má memória), onde o ano passado desisti.




Autor da Foto: JOAQUIM ADELINO (obrigado)


Aqui o vento, a areia mole e a inclinação do piso são as principais dificuldades. Cheguei aqui não tendo parado uma única vez e vou animado, embora já algo desgastado por aquela asneira entre os Kms 10 e 20. Faço a distribuição do abastecimento e sigo viagem. O vento é cada vez mais forte. Dói-me a articulação da anca devido à inclinação do piso. Dói-me o pé esquerdo que tem areia mas que tento ignorar (…). O vento é cada vez mais forte, levanta areia que pica as pernas como alfinetes e eu continuo, aqui e além a passar pessoal que já deu as últimas.
A partir do Km 33 começo a pagar a 'factura' do que fiz antes e adopto a táctica (de sobrevivência) de correr 2Kms e andar 1Km. Mas agora, a cerca de 10Kms da meta, já nada me faria desistir. Poderia ir a passo até ao fim agora. Ao contrário do que aconteceu em 2010, quando recomeço os trajectos a correr sinto ainda alguma força nas pernas, fruto de uma preparação que foi mais cuidada. Estou muito cansado mas ainda com alguma capacidade. Rodo nesta altura perto dos 7’/Km e ando energicamente a cerca de 8:30/Km e assim consigo chegar ao Km 42. Recomeço a correr, para um final apoteótico. Baixar as 5horas passa a ser possível. O Francisco Monte aparece por ali e ajuda-me nos últimos 200mts. Corto a meta dedicando aqueles momentos à m/Mãe, claro, que tanta força me deu, mesmo ontem, algures na península de Tróia.

No ‘Silver’ o tempo marcado é 04:58:56. No cronómetro oficial marca 05:00:10. Passo a meta muito emocionado e completamente estourado. Consegui vencer a UMA, em condições bastante difíceis. O vento foi o principal obstáculo. Mas a UMA é daquelas provas que será sempre uma incógnita em termos de condições e resultados para quem quer que alinhe à partida. É isso que lhe dá aquela áurea de ‘aventura’.

Sento-me à sombra apenas o tempo de enfiar uma garrafa de água. Levanto-me, como 2 pedaços de melancia e vou para a praia, fazer 10’ de crioterapia. Arranco para o barco e aqueles 2Kms até ao porto são um suplício. Tenho um novo andar e vou positivamente a arrastar-me até lá. Entro no barco e lembro-me do ano passado quando aqui cheguei e o estado de espírito era bem diferente.

Este ano vou para casa com uma enorme ‘empeno’ mas vou com a sensação que desta vez mereço vestir a camisola de ‘finisher’ da UMA.

Agora, com cerca de 24 horas após terminar a UMA2011 os reflexos do esforço resumem-se a um escaldão na parte de trás do pescoço, onde me esqueci de aplicar protector, pé (esqº) dorido e com 3 bolhas, o esqueleto da anca a doer e as pernas, claro, muito doridas.

Não sei se a voltarei a fazer. Afinal é uma prova complicada de se fazer, não só pelas suas condições próprias, mas também por tudo o que se tem de fazer até alinhar à partida. Agora há que pensar no próximo desafio, esse bem mais complicado que a UMA, mas disso falarei mais tarde!!


Kms 1º ao 10º andei entre 06:22 no 10º e 07:26 no 1º
Kms 11º ao 20º andei entre 05:56 no 13º e 06:22 no 11º
Kms 21º ao 30º andei entre 06:08 no 22º e 07:58 no 29º (*)
Kms 31º ao 40º andei entre 06:25 no 40º e 10:05 no 33º (**)
Kms 41º ao 43º andei entre 06:05 no 43º e 08:34 no 42º

Estatística 'Silver':
-Tempo total: 04:58:54
-Média por Km: 06:52
-Média BPM: 149
-Calorias: 3842

(*) Coincide com o abastecimento aos 28,5Kms
(**) Coincide com o início de marcha de 2 em 2 Kms. A partir do 33º, fiz marcha nos Kms 36º (08:56), 39º (08:28) e 42º (08:34)

4 comentários:

  1. Desde o primeiro minuto em que soube da tua desistência do ano passado que eu sabia que voltarias as areias de Tróia para te “vingares”.
    Os maratonistas são assim, não levam “desaforos” para casa!
    Quanto mais tu “barafustavas”, quanto mais tua dizias “UMA” nunca mais me apanham lá mais eu pensava: pois, pois para o ano está lá caído!
    Fico muito pela feliz pela tua prova, por ti!
    Se a é saboroso fazer uma prova com um grau dessa dificuldade então “vingar” uma desistência ainda é mais especial.
    Tu nem desististe no ano passado apenas fizeste uma retirada estratégica para voltar de novo ao ataque e ganhar a “batalha”!
    Penso que depois de teres feito a "UMA" não serás mais o mesmo nem como atleta nem como ser humano. Certamente ficaste melhor depois da “UMA”!
    Ainda sonho, um dia fazer aquilo, mas a minha “janela de oportunidade” esta a fechar-se demasiadamente cedo e muito rapidamente. Mas quem sabe!
    Um forte abraço.

    ResponderEliminar
  2. Parabéns Alexandre, apesar das dificuldades motivadas pelo forte vento obtiveste uma excelente marca. Atrevo-me a dar-te um conselho, não ponhas já em causa a tua presença em 2012, não nos podemos dar ao luxo de passar ao lado desta grande prova, ela é de facto um desafio enorme mas todos nós temos a sensação de que a maior parte das vezes temos de provar mais 1..2..3.. vezes de que fazer "aquilo" não foi uma obra do acaso. Eu estava ali a bater umas chapas mas o que de facto mais queria era estar ali ao vosso lado, tal como o fiz nas duas últimas edicções.
    Abraço e parabéns para ambos.

    ResponderEliminar
  3. Obrigado pelos V/comentários.
    A UMA é de facto uma 'aventura' com tal intensidade que quando acaba dificilmente nos vemos a repeti-la. Provavelmente voltarei, mas agora que me 'vinguei' do desaire do ano passado estou com vontade de enfrentar novos desafios.

    ResponderEliminar