segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Correr ... Por quem não esqueci!! (O Relato) Cap. V

... continuação

Começou às 05:40 esta jornada, que agora, cerca de 72 horas decorridas, sinto que me tornou mais completo.

Esta m/viagem preencheu de certo modo alguma da enorme angústia que fica quando se perde alguém e se sabe que não se fez o suficiente, em tempo útil, para demonstrar o que realmente sentimos cá dentro.

Quando damos por essa falha geralmente já é tarde demais e depois fica aquela dor e a angústia de não podermos fazer nada para emendar, mesmo que pouco, essa falha.

Sempre comuniquei pouco. É capaz de ser defeito ou feitio. É capaz de ser de infância. Sempre fui bastante fechado comigo e com os sentimentos, que raramente deixo sair fora da armadura que crio à minha volta. Na passada sexta-feira abri a ‘armadura’ q.b..

Tudo ficou preparado de véspera. Roupa pronta e dispositivos com as respectivas baterias carregadas. Telemóvel, 'Silver' Garmin, MP3, Máquina de Fotos e NDrive. No dia, teria apenas de fazer as sandes e descascar fruta para o abastecimento reforçado que planeara para meio caminho.

Levantei-me às 04:00. Seguiram-se as rotinas dos dias especiais. Por volta das 05:00 um prato de nestum. Seguiu-se-lhe a equipagem, com especial atenção aos pontos mais sensíveis ao atrito, mamilos, virilhas e dedos dos pés, profusamente envolvidos em vaselina. Às 05:30 estava a sair de casa e às 05:40 a jornada teve início.

A temperatura era baixa. Estávamos afinal no dia mais frio do ano.

Iniciei em regime de marcha forçada e fiz os primeiros 2 Kms neste modo. Ao longo das cerca de 15 horas da m/jornada evitei ao máximo pensar em tempos e em médias. A viagem era para ser feita, fosse em 12 ou em 24 horas. Era essa a única preocupação: Fazê-la!

Alguém me relembrara, dias antes: “ as subidas são para ser feitas a andar” (Luís ‘Tigre’ Miguel). Este recado acompanhou-me durante todo o dia. Cada vez que via uma subida, passava a regime de passo forçado. Aproveitava para hidratar, responder aos SMS do Jorge Branco e de vez em quando a mastigar qualquer coisa. Cada vez que passava uma localidade, aproveitava igualmente para registar, para mais tarde recordar!

E ainda há placas pintadas em azulejo!!





Esta parte inicial era uma das partes que eu mais temia. Era sair para a rua a horas impensáveis para ir correr. Estava escuro e frio. E eu estava ali, no meio da estrada, (quase) sózinho. Havia alguém que me acompanhava.

Acabou por não custar assim tanto. Apenas comecei a correr por volta do 2º Km. O trânsito era escasso e os Kms passavam-se calmamente.

As primeiras 2 horas foram feitas a 8Kms/Hora. Estava a portar-me bem. O sol começava a levantar-se e a mostrar um dia que seria muito bonito.





Por volta das 02:30 hrs de percurso parei para tomar o 2º pequeno-almoço. Soube-me muito bem. Meia de leite, 1 queque e 1 café.

Segui caminho, para logo à frente complementar com uma sandes mista caseira.

No farnel, nesta 1ª metade do percurso, ia: 1 Barra / 1 Gel energéticos, 2 Bananas, 1 Sandes Mista, 1 Pacote Polpa 100% Fruta (do Alex… ), 1 dose de amendoins salgados / de cajú salgado / de sultanas, 1/2 pacote de chipmix, 1 lt de água, 2 porções do bolo energético.

A 1ª parte, até aos 16 Kms era a mais exigente em termos de subidas. Depois começou o carrossel de subidas e descidas e o passo, mesmo que involuntariamente, aumentou um pouco, para a casa dos 9 kms / hora. O trajecto tem muita subida e descida mas é na sua grande maioria tudo ligeiro.

Mesmo depois do sol nascer o frio fazia-se sentir.

O meu equipamento para a viagem foi: 1 gorro de malha, 1 luvas de malha, 1 T-Shirt, 2 Polares, 1 Corta-Vento, 1 Colete Reflector, 1 Bidon com cinto à Tiracolo, 1 Bolsa Tiracolo, 1 Mochila, 1 Led na Mochila, 1 fita reflectora na Mochila, 1 Calções, 1 Meias e os GT-2150.

Optei por levar calções unicamente por razões práticas. Comecei-me a imaginar a ter vontade de encostar, para ir ao WC, alguma dúzia de vezes com aquela água toda que iria beber e a ter de tirar aquela panóplia de artigos para conseguir tirar as calças. Com os calções, como bem me entenderão, as coisas ficam mais acessíveis (…).

Claro que há o reverso da questão, e esse residiu no facto de ter ido para a rua, com aquele frio, de calções. De vez em quando olhava para as pernas e via-as encarnadas (...). Claro que a pessoa abstrai-se e continua, sem ligar. Só muito mais tarde, quando já em casa me meti debaixo do chuveiro, é que me apercebi dum ardor em reacção à água quente a cair, principalmente na coxa esquerda. Tinha as coxas queimadas, do frio que apanharam na viagem!! A esquerda estava em pior estado porque o lado esqº foi o que andou sempre mais perto da berma e exposto ao frio que vinha, principalmente do lado esquerdo.

Consegui passar as piores partes do percurso, em questão de trânsito, antes da hora de ponta e por isso o percurso para lá, correu de modo pacífico. Em cada subida petiscava e hidratava. O físico não reflectia qualquer tipo de cansaço. Sentia-me muito bem.

Outra questão que me levantou algumas dúvidas foi a falta de conhecimento do trajecto. Em 2 fins-de-semana anteriores fizera o reconhecimento até cerca dos 30 Kms, mas os últimos 20 Kms eram completamente desconhecidos. Olhar para um mapa no GoogleMaps, GPSIES ou Garmin é diferente do que estar no local, ver subidas, descidas, cruzamentos, curvas sem bermas, etc, etc. Mas também aqui esses temores se revelaram infundados, pois nunca andei realmente perdido e se alguma vez me desviei do percurso traçado, foi engano desprezível em termos de distância.

A cerca de 10 Kms no final da 1ª parte comecei a sentir um dedo do meu pé esquerdo. Aqui outro facto digno de ser registado, para futuras situações. A 3 dias da minha demanda, encontrei na SportZone umas meias de compressão. Era um artigo que há algum tempo ambicionava experimentar e não resisti, logo nesse dia, terça-feira passada portanto, as experimentei, no último treino antes da viagem de sexta. Comecei a pensar levá-las na viagem. Apesar de tudo o que já aprendi e que os outros me ensinaram, acerca do equipamento a levar ou especialmente a não levar, acerca dos repetidos conselhos para não se estrear nada em dias de eventos especiais, meteu-se aquela na cabeça e pronto. Ainda as lavei, na tentativa de lhes dar algum uso, pelo simples facto de as lavar num programa leve. Claro que esta m/experiência tinha de dar mau resultado.

A 10 Kms de atingir a 1ª metade da viagem começo assim a sentir o dedo, que foi assim até ao final. Valeu o ‘banho’ de vaselina à partida, às 05:00 quando me calcei e que repeti agora, a meio caminho, porque felizmente levei comigo um tubo de vaselina. Descalcei-me, comprovei a existência duma bolha, coloquei mais uma extra dose de vaselina e voltei a calçar-me. A bolha, de facto, só voltou a dar sinal já perto do final, a cerca de 30’ de casa. Do mal o menos e podia ter corrido bem pior.

Estávamos perto das 12:00 hrs, perto dos 50 Kms e perto do meu destino.

Pelo caminho mais de 6 horas para pensar. Muito bom. Muito bom!!

Cheguei ao destino eram 12:16 hrs e tinha cerca de 51 Kms feitos. Enquanto subia a última rua, antes de chegar ao meu destino, sentia-me feliz. O meu sonho de há uns meses estava prestes a ser concretizado.






Continua ...

6 comentários:

  1. Alex
    sem mais palavras um abraço e a minha admiração.

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  2. Igualmente sem palavras!
    Apenas um forte abraço.

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  3. Os parabéns pelo feito que já conhecia pela arte de informar do amigo Jorge Branco, agora quero conhecer o resto da aventura pois para a próxima iniciativa gostava de a conhecer com alguma antecedência pois uma ajuda ainda que pouca sempre é melhor que nada.
    Um abraço.

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  4. Parabens.. ao ler tudo senti-me, como se diz agora, virtualmente, a correr ao teu lado... É isto o espirito dos verdadeiros corredores de fundo e na linha geral da máxima "corredores ao serviço dos corredores". Na próxima "aventura" não se esqueça de me avisar pois será com grande prazer que irei fazer um par de km consigo, talvez a conversar... talvez muito calados, naquilo que os teóricos chamam de "grande solidão do corredor de fundo". Se houver oportunidade conte comigo para a próxima... nem que seja meia dúzia de metros "longos"!
    Mário Machado
    SPIRIDON

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  5. Caro Alex,

    Em primeiro lugar, os meus parabéns pela forca desportiva de fazer esta avantura. Este seu texto espantou-me nāo só pelo excelente relato, mas por uma particularidade. Runa é a minha freguesia, onde fui criado e vivi até aos meus 21 anos, onde mora toda a nossa família.
    O mundo da internet é cada vêz mais pequeno.!!

    Um abraco
    Dos Xavier's na Holanda.
    Http://josexavier1.blogspot.com

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  6. Obg a todos pelos comentários. Se bem que pessoal, a minha jornada fica enriquecida com os V/comentários. É assim que quero mantê-la, essencialmente minha, da Família e claro dos Amigos.

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