sexta-feira, 25 de julho de 2014

UTSM 2014 - Até ao Marvão

Fui uma vez mais apreensivo na passada sexta-feira, dia 16 de Maio, a caminho de Portalegre.

Aqui há uns meses hesitei muito se devia ou não repetir a minha participação de 2013 e embarcar em novo desafio das gentes do ACP. A 1ª experiência foi excelente. Óptimo local, óptima organização e claro, óptima companhia do António Almeida fizeram do UTSM de 2013 uma experiência difícil de esquecer.

Agora, em 2014 ainda deixei passar a 1ª fase das inscrições. Esgotaram-se as 500 vagas colocadas pela organização. Mas na 2ª fase, aberta para mais 200 inscrições, já não resisti e acabei por me inscrever.

Portalegre aparece naturalmente 3 meses após RUNA. É tempo suficiente, mas depois acaba sempre por acontecer uma ou várias coisas que nos limitam a fazermos aquilo que consideraríamos necessário, para que levássemos mais ânimo e mais confiança, quando nos aproximamos duma aventura destas dimensões.

Ganhei alguma defesas nos dias que antecederam o dia 17, com algum exagero colocado na divulgação das alterações ao percurso e nas acrescidas dificuldades com que os concorrentes deveriam contar nesta edição de 2014.

Alguém inclusive comentava no FB, que transparecia algum prazer mórbido em ver crescer as estatísticas de desistências, já de si substanciais (23%), registadas na edição de 2013.

Mas lá fui, numa viagem longa e algo maçadora, que terminou mesmo junto às 22:00, em Portalegre - Assentos.

Gostei: do estacionamento, bem melhor que em 2013.

A seguinte tarefa seria levantar o dorsal e lá fui eu. Aqui a 1ª desilusão, a menina da organização vira-se para mim e pergunta-me:   "...a t-shirt pode ser tamanho 'L'??..." (!!!), eu fico um pouco apanhado de surpresa e respondo simplesmente "Não!!". A menina vai falar com uma colega (mais desenrascada) que muito naturalmente me informa "... as camisolas XL acabaram!! " ao que respondo, "...mas na inscrição assinalei o tamanho XL!... "  Pois ... Pois ???

Não gostei: sei que é um pouco mesquinho. A t-shirt de 2013 nunca sequer a usei, mas a t-shirt é, em conjunto com a medalha de cortiça, o único troféu que a grande maioria dos participantes traz de Portalegre. Se colocam no acto de inscrição a questão sobre o tamanho da t-shirt pretendida, qual a justificação para depois não haver para dar ao concorrente. Ainda por cima a pôrra da t-shirt até é engraçada!
Fiquei pior que estragado, mas siga!!

Respirei fundo, muito fundo e voltei para o carro. Tinha cerca de 1:00 hora pela frente para ultimar os preparativos.

Pouco depois das 23:00 hrs, dirijo-me de novo ao estádio, para depositar o saco para ser enviado para o Marvão (Km 60) e fazer o check-in.

Gostei: da simplicidade e eficiência destas 2 operações.

Já no ano passado esta fase tinha sido simples. A verificação não sendo exaustiva ou maçadora, parece ser eficaz e suficiente.

Às 23:35 hrs estou no estádio, na zona da partida. Troco umas palavras com o Joaquim Adelino, que me aconselha a arranjar compª porque "  faz muita falta principalmente na 2ª parte  ". E como ele tinha razão!!

Junta-se o Luís Miguel e até dá para a foto.


Sinceramente a animação que a organização arranjou este ano, não aqueceu nem arrefeceu. Provavelmente a maioria gostou assim, mas para mim uns momentos de calma e algum silêncio teriam caído melhor mas ... gostos são gostos e ... siga!!

Dá-se a partida às 00:00 hrs e cerca de 500 almas lançam-se no escuro, Portalegre fora, para percorrer uma aventura de 1 dia inteiro, ou quase!



A 1ª parte do percurso teve bastantes alterações, tal como a organização vinha avisando. No geral o trajecto tornou-se mais difícil, mais técnico e sentiu-se essa alteração, principalmente entre o PAC2 e PAC3, e o mesmo lá mais para a frente, entre os PAC7 e PAC8.

Não gostei: neste 1º trecho do percurso e com as alterações ao percurso introduzidas, de algumas passagens por herdades, que por serem particulares se encontravam vedadas, havendo por isso necessidade de transpor as vedações. Numa dessas, a vedação era arame farpado. Eu passei com alguma dificuldade e tenho 1,87mts. Calculo o que por exemplo a Célia Azenha ou a Analice Silva, terão passado para transporem aquela vedação.


Este ano as temperaturas iriam andar entre os 13º e 28º de máxima. A noite esteve amena, mas mesmo assim levei uma camisola mais forte para a 1ª parte da prova e não me arrependi.

PAC 1 praticamente não paro. Bebo água e abasteço o bidon.

PAC 2 felizmente desta vez não nos fazem subir ao coreto.


Esta parte inicial é feita com muita gente e algumas filas, onde há ainda força e disposição para a brincadeira. Vou calado e à espera que o silêncio venha para me poder concentrar. Mas não espero muito porque logo após o PAC 2 faz-se silêncio e todos poupam oxigénio para a subida às antenas.

A partir daqui, nas subidas mais complicadas, adopto a táctica de fixar os calcanhares de quem vai à minha frente e só os levantar quando esse companheiro reinicia a corrida. Olhar para o topo duma subida pode ser desgastante e desmotivante e assim poupo-me. A subida é este ano por outra vertente e parece ser bem mais difícil do que em 2013, ou sou eu que a subo com mais custo.

Passo pelo José Bordalo a quem cumprimento e só depois vejo, um pouco mais à frente, o Bernardo a quem cumprimento. Brinco com a nossa 'questão' acerca da chuva versus calor. Ele queria o calor e não queria a chuva. Eu pelo contrário, preferia a chuva sobre o calor que se adivinhava para esta edição. Ganhou ele...

Chego ao PAC3 e sinto que atingi o 1º degrau desta longa jornada.

PAC 3 faço um abastecimento rápido. Tal como no ano passado a escolha recai no chá e nos queques. Mudo de frontal porque as 5 horas gastas até ali enfraqueceram o Black Diamond. Há grande confusão neste PAC. À minha frente 2 sujeitos bem novos, meios perdidos. Um deles desabafa para o outro " ... oh pah, nunca mais me meto noutra ..."! O miúdo está visivelmente esgotado. Surpreendido com a realidade! Sigo viagem.

Apenas um par de Kms à frente cruzo-me com um participante, que vai em sentido contrário (???). "Esqueceu-se de alguma coisa" penso para mim. Passados mais 1 ou 2 Kms vejo um grupo. Quando me aproximo percebo que está alguém no chão. Espreito e há alguém deitado e completamente enrolado em várias mantas térmicas! Pergunto se é preciso alguma coisa e nem me ouvem. Estão ali à vontade 6 ou mais concorrentes e por isso sigo caminho.

Houve muito pessoal que se esqueceu que o PAC2 e principalmente o PAC3, este último a mais de 1.000 mts de altura, teriam de ser percorridos de madrugada e uma t-shirt é pouco para aguentar o vento, o frio e ainda por cima o facto de chegarmos lá acima transpirados, devido ao esforço da subida.

Para mim, é a altura em que gosto mais de correr o UTSM, no raiar do dia, entre as 06:00 e as 08:00. A única coisa que se ouve e bem é o chilrear dos pássaros. A temperatura está fresca e começam-se a distinguir as formas e o relevo à nossa volta. Excelente.

O dia nasce e há grande algazarra à minha volta. Os bichos devem estar a reclamar do inusitado movimento por ali.


Um dos (poucos) pontos onde poderia tentar cortar tempo seria nos PAC. Se conseguisse poupar que fosse 5' em cada um deles, daria cerca de 50' no final, o que é muito tempo. Por isso e sem colocar em questão a necessidade absoluta de abastecer e hidratar em condições, tentei sempre gastar o mínimo de tempo possível.

No 1º PAC apenas líquidos. No 2º PAC líquidos mais alguns salgados. No 3º PAC chá + queques. A receita era a que em 2013 seguira, com tão bons resultados. Nada de inovações, apenas o que normalmente estou habituado a meter em treinos/provas + longas.

Até ao PAC 2 ainda vou muitas vezes com o Joaquim Adelino, mas a confusão é grande e nem me apercebo quando deixámos de ter contacto.

Não gostei: de alguma confusão em alguns PAC. Eu sei que passámos de 350 em 2013, para quase 600 em 2014 e isso reflectiu-se e de que maneira nos PAC, onde o espaço reduzido de alguns e a natural acumulação de pessoal, tornaram complicado que se conseguisse chegar às mesas, para se retirar qualquer alimento.

Chego ao PAC 4 - S. Julião. Do chouriço não há notícia, nem se cheira, mas há café bem quente que empurra mais 2 queques. Água e segue caminho, agora para subir.

Segue-se um dos Main Events de 2013: o PAC 5 e a Bifana.

No PAC5 - Porto da Espada tive a vingança de 2013, em que o António Almeida não me deixou parar para apreciar a bifana que ali é dada aos participantes. Este ano pude apreciar calmamente uma bifana acompanhada de uma ... coca-cola!! Mas já lá vamos à bifana.

Como aconteceu em 2013 navego muito tempo à vista da Célia Azenha. Em 2013 eu e o António andámos frequentemente perto dela. Ela anda mais devagar, mas nos abastecimentos é uma seta e adianta-se. Aqui volto a apanhá-la, perto do PAC5. Falamos um pouco. Parece-me algo cansada, o que se me afigura anormal para uma atleta com a rodagem dela. Mas se pensarmos um bocadinho apenas na frequência em que participa em provas deste género, estilo fim de semana sim, fim de semana sim, poderá estar aí algum fundamento para as dificuldades que parece estar a atravessar quando andamos um pouco lado a lado. A MIUT foi a sua última participação e convenhamos que é brutal o espaço de tempo que separa aquela desta prova.

Finalmente chego ao PAC!

Em 2013, com 2 ou 3 participantes apenas neste PAC, assim que me foi dada a bifana só tive tempo de encher a caneca com a coca-cola, porque logo de seguida o António chama-me e diz-me para irmos embora!! E lá vou eu, trilho acima, com os bofes de fora a enfiar a bifana, a molhá-la com coca-cola e a tentar respirar no meio de tanta azáfama!!

Ficou-me atravessada a bifana, mas este ano não. Estive digamos que 1 ano à espera deste momento e tinha que o gozar.

Desta vez havia muita gente no PAC. Os colaboradores inexcedíveis, despachavam bifanas à profissional, esperei pela minha vez e quando fui premiado com a minha bifana preparei-me para o banquete. Peguei numa garrafa de coca-cola e enchi a caneca. Peguei nas coisas, recuei para umas mesas que estavam um pouco afastadas e sentei-me, por sorte junto a um prato de batata frita. Estava composta a mesa e deleitei-me com o prazer daquela bifana.

Neste PAC e neste episódio da bifana, passou-se uma situação que partilho convosco:
Imaginem aqui o V/amigo junto a uma mesa à espera e a babar-se por uma bifana.
Imaginem mais cerca de 10 ou 12 marmanjos precisamente na mesma situação, à espera e esfomeados.
Quando chega finalmente a minha vez e me colocam à frente o prato de plástico com a deliciosa bifana, os meus olhos reviram-se de prazer e gula. Reviram-se ainda para a garrafa de coca-cola, que à falta de melhor acompanhamento teria de empurrar aquela bifana pela goela abaixo. Pois nos cerca de 5 segundos que demorei a apanhar a dita garrafa de coca-cola e encher a minha caneca, vi um esfomeado a ... , imaginem vocês, pegar na minha BIFANA!?!?! Olhei para ele, raios de fogo saíram das órbitas, ele era espanhol mas não burro e perguntou-me qualquer coisa do género " ... é tua ..." DAHHH!! Claro que é minha!! Ele envergonhado pousou a bifana calmamente de volta no prato e riu-se visivelmente arrependido.

Foi engraçado este episódio!!

Quando cheguei ao final da minha refeição, calmamente peguei nas coisas, deitei o lixo no lixo e ainda calmamente regressei ao meu caminho, a pensar no António e a dizer-lhe daqui "...esta é para ti António Almeida!!..."

Gostei: continuaram inexcedíveis os colaboradores nos PAC. Tudo fazem para ajudar os participantes e conseguem-no. Às vezes calculo o que não aguentarão de pessoal que chega cansado e às vezes sem qualquer paciência ou discernimento para qualquer contratempo, por mínimo que seja.

Foi em 2014 o ponto que considero mais forte na organização, o pessoal dos PAC. Para todos eles o meu Obrigado!

A propósito do discernimento (ou da falta dele) com que estes colaboradores têm de se confrontar, imaginem aqui o Alex, no PAC2, a chegar-se ao bidon do chá, a pegar na minha caneca e quase a enfiá-la no líquido (felizmente) vira-se para a senhora que ali estava e pergunta-lhe "...posso? ...". Polidamente a senhora corrige e responde, " ... não! Aqui só eu é que posso tirar o chá!!" Apercebi-me aí do que estivera prestes a fazer e a enfiar a minha caneca, no chá que seria bebido por muita gente!! Pedi desculpa e segui ...

Feito mais um check-up sumário, dá para perceber que as pernas continuam bem.

Do PAC 5 vê-se o PAC 6, o imponente Castelo, ali tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Com o masoquismo que caracteriza uma vez mais o desenho do percurso feito pela organização, as voltas e voltinhas que me levarão a passar aquela porta, lá no alto, ainda me farão andar cerca de 10Kms!

 

Seguem-se alguns Kms em descida, em que aproveito para correr porque sei que logo a seguir seguem-se muitas subidas. Lá em baixo, mesmo antes de começar a tal sucessão de subidas, irei apanhar uma vez mais a Célia, irei encontrar mais um curso de água retemperador, onde gozo mais um banho maria durante um par de minutos e depois sim, começa o 'calvário' do ataque ao Castelo de Marvão.


Seguem-se sucessivas séries de subidas, numa altura em que o sol começa a aquecer. É complicado por não ser uma subida, mas uma sucessão delas e também porque, sempre à vista do castelo e depois de muito subir, contornamos o morro e descemos, para logo de seguida voltarmos a subir ainda mais.

Tal como em 2013, é uma fase da prova absolutamente masoquista, percorrer trajectos que circundam o tão desejado Castelo, sem nunca chegar de facto a alcançá-lo, até que já perto do desespero se transpõe finalmente aquela porta.

Em 2013, assim que passámos a porta, eu e o António fizemos em passo de corrida a ligação ao PAC. Este ano, fiz todo aquele percurso a passo ...

Depois de transposta, abre-se ao concorrente o PAC6 em todo o esplendor da oferta, que no caso e excluindo tudo o resto, se resume a uma sopa, muito provavelmente a sopa que melhor me soube em todo o ano de 2013!

Mas não foi assim em 2014!!

Fruto do aumento de concorrentes o espaço no PAC foi reduzido a uma meia dúzia de cadeiras, ao sol, onde temos de comer a deliciosa sopa e atrapalhar-mo-nos com a forma de conciliar com o incontornável pão. Sem o apoio da mesa disponibilizada em 2013, torna-se uma tarefa complicada e o concorrente que come a sopa ao meu lado, acaba mesmo por entornar a tigela por cima das pernas e sapatos. É de facto pouco e fraco espaço para um momento tão desejado.

Não gostei: por isto da organização deste PAC. Nada a ver com o conteúdo da mesa, mas sim com a forma como a organização entendeu disponibilizar o mesmo.

Subo para a muda de roupa e também e especialmente aqui, se nota o aumento de concorrentes em relação a 2013.

O salão que em 2013 me pareceu enorme, está este ano apinhado. Não há cadeiras disponíveis. Mas há o palco e lá terei que dar espectáculo de strip. Este ano opto por não mexer nos pés. Sentia-os bem e mesmo com algum risco mudei só a roupa e deixei as meias e os sapatos. Arrumei melhor a mochila de modo a conseguir aqui deixar a bolsa de cintura e estou pronto.

Cá fora no bar bebo um café, ponho protector solar, coloco o lenço de cabeça que me irá acompanhar até ao final, coloco o 'Silver' à carga no carregador de braço e lanço-me a caminho do PAC7.

O ano passado fizemos a longa calçada romana toda a passo. Este ano e um pouco para compensar a entrada no castelo, faço-a toda a trote. Lá ao fundo uma fonte e logo ali molho o lenço e enfio-o na cabeça, ainda a escorrer. Será uma operação que irei repetir sempre que encontrar água e que resulta em termos de estímulo muito refrescante.

Está feita a 1ª parte, que é também a mais difícil e técnica. A partir daqui se o cansaço e o calor sobem, em compensação os Kms em falta para o final vão diminuindo e a componente anímica sobe em flecha.

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