domingo, 15 de novembro de 2009

Nazaré 2009 - A minha versão

Lanço a mão ao despertador para não acordar mais ninguém e desligo-o.
São 6:30.
Levanto-me rapidamente, rumo ao WC.
A noite passou lentamente e com sono leve, fruto da excitação dos últimos dias. A manhã acordou cinzenta escura. A noite foi de vendaval. Tal como as previsões disseram, "muita chuva e vento forte". Desta vez acertaram.
A seguir, 1 prato bem aviado de cereais. É um menu habitual aos pequenos almoços e ao mesmo tempo rico em nutrientes necessários a um esforço de combustão lenta.
Ontem à noite foi um prato de esparguete. Por esse lado está tudo salvaguardado.
De seguida é vestir. A T-Shirt, é a que irá sob o singlet. Os calções e as peúgas as mesmas que me acompanharão em mais uma prova. Não gosto de vestir roupa imediatemente antes duma prova. Gosto de andar uma ou duas horas com ela, para se ir moldando ao corpo, suprimindo vincos, amolecendo costuras, tudo o que possa daqui a pouco criar atritos. Uma camisola grossa e o fato de treino completam a vestimenta habitual e repetida nestas ocasiões. A viagem, de cerca de 2hrs decorre sem novidades. Pela auto-estrada vou recordando os preparativos dos últimos meses. Os treinos que começaram ainda em Agosto, na praia. Depois em Setembro e em Outubro, com o teste feito na Corrida do Tejo. Agora estava tudo pronto para o grande dia, aquele que anualmente chega com uma expectativa diferente dos outros dias, doutras provas. Foi aqui que tudo começou, há cerca de 25 anos, numa brincadeira e depois disso regressar é sempre uma festa.
Chego pouco antes das 9:00.
Dantes deixavam estacionar na recta da meta, ali, bem em frente ao mar. Mas nos últimos anos aquilo está tudo vedado com cordas e tenho que descobrir um lugar numa das paralelas à recta, coisa que aquela hora não é difícil. Estaciono e com passo ligeiro dirigo-me ao local habitual de levantamento dos dorsais. Bebo 2 golos de água. À minha esquerda aquela visão magnífica do mar, sempre aquele mar especial daquela praia. O mesmo mar que nos recebe e que já levou tanta gente daquela vila, que nem o Santo no promontório conseguiu salvar. Está uma temperatura amena, o céu continua cinzento carregado. Quanto mais me aproximo da zona da partida, mais azáfama acontece. São os últimos preparativos para receber condignamente os visitantes deste dia especial. Passo na zona da partida e a rádio local faz-se já ouvir com os intermináveis textos de publicidade ao comércio local, pequeno mas que continua a aderir e a ajudar também ele à festa. Passo no largo, onde daqui a uma horas irão existir várias filas de atletas, à espera de passar as meninas que distribuem os habituais sacos. Uma T-Shirt, uma broa, uma caneta e o habitual prato, o prémio maior e tão desejado. T-Shirts há muitas. Não há evento que não as tenha. Mas o prato é como o Sino em Mafra. É especial! Chego ao pavilhão.
São 09:15.
A minha altura mais uma vez favorece na procura do dorsal que me corresponde, porque há já muito pessoal à volta dos placards. Encontro o nome e lá me dirijo eu para a respectiva fila. 'Veteranos - Individuais'.
A 1ª etapa está feita. O dorsal é meu. Agora, mais descansado, tenho cerca de 1:30 para me preparar, calmamente.
Na descida, como de costume, páro naquele pequeno café à direita. Mas tem bom café e estou a precisar dum. Mais calmamente faço agora o percurso contrário. Bebo 2 golos de água. Já há malta a correr para um lado e para o outro. São malucos penso eu para mim!! Se eu 'aquecesse' assim, chegava à hora da prova e podia arrumar os ténis!! Chego ao carro. Como é habitual, abro a mala, desço o poisa chapéus e com calma e muito tempo, prendo o dorsal no singlet. Este singlet, com as côres de frança, acompanha-me desde a 1ª prova. Já esteve mais largo, com o tempo e os anos ou ele encolheu ou eu alarguei. Mas nas dezenas talvez centenas de provas que fiz sempre
o vesti, sobre a mesma T-Shirt branca e que agora também ela já deixa transparecer as muitas lavagens a que foi sujeita, já está rôta na gola e o estampado original 'Copicanola' há muito que desapareceu. Mas gosto de vestir a mesma roupa, é um costume que mantenho. O dorsal está pronto, dobro cuidadosamente a camisola, volto a arrumá-la e sigo para a próxima tarefa: as vitaminas. Tiro uma maçã e um pêra do saco e vou comer para o passeio, em frente ao mar. O mar é sempre novo e nunca me canso de o admirar. Bebo 2 golos de água.
São agora 10:00.
A recta está agora muito mais preenchida. Grupos de fatos de treino, acompanhantes, castanhas assadas, as mulheres das saias rodadas e chapéus típicos, os polícias e o estridente locutor, na azáfama de ler os trechos publicitários.
Volto para o carro. Lentamente o nervoso miudinho vai tomando conta de mim. Sei que tenho tempo, mas ao mesmo tempo tenho pressa que o relógio avance.
Bebo 2 golos de água.
Dedico-me à próxima tarefa: os pés.
Tiro as calças fato de treino, sento-me e calmamente coloco vaselina nos pés, espalho com cuidado especial nas zonas de maior atrito: joanetes, calcanhar e dedo mindinho. Calço de novos as meias, seguidas dos ténis e é mais uma parte que está pronta.
São 10:30.
Tiro o casaco fato de treino e a camisola. Visto o singlet. Bebo 2 golos de água. Aperto com todo o cuidado os ténis. Nem demais, nem de menos. É o local mais importante e não facilito. De seguida é mais um bocado de vaselina de cada lado das coxas. Mais um local que alargou e mais um local de possível atrito. Mais vaselina
nos mamilos. O suor daqui a pouco vai começar a provocar atrito também ali.
Já se ouve o pessoal da organização a chamar o pessoal para a zona de partida. "Quem não estiver na zona da partida será desclassificado!" avisam sem qualquer crédito por parte das largas dezenas que ainda correm despreocupadamente na recta, à frente daquela zona.
São 10:45.
Fecho o carro e dirijo-me em corrida lenta para o magote de malta que se acotovela junto à partida. É pessoal para quem todos os segundo contam. Lembro-me que já fui assim como eles. Passo no corredor lateral e coloco-me no final da zona, onde uma espécie de carroucel vai proporcionando uma aquecimento a todos os que nele participam. Aqui e ali faço uns estiramentos. Começo por baixo, pés, pernas, cintura, tronco, braços e pescoço.
Encosto-me a um poste e tento empurrá-lo um pouco para trás ...
São 10:55 e o pessoal vai-se chegando à frente. Continuo agora apenas a saltitar e a esticar nervosamente os gémeos. Preparo o cronómetro, está a 00:00 e pronto para ser accionado, tal como eu. De repente ouve-se um estrondo e logo de seguida é como uma largada de cavalos. Lentamente a molhada começa a aliviar e do passo evolui-se para o trote e de seguida para a corrida solta. Sinto o cheiro a maresia, misturado com o de muitas pomadas 'milagrosas'. Sinto a brisa fresca da manhã.
É 15 de Novembro.
São 11:00:15.
Estou a correr.
Estou na Nazaré.

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